Review de Triângulo do Tempo | Faltou teia pro Vinicius Aranha

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A resenha da semana vai para “Triângulo do Tempo”, novela criada e escrita por Vinicius Henzel e exibida pela Unbroken Productions. Nos créditos do primeiro capítulo, Cristina Ravela aparece como supervisora, entretanto, de acordo com a proprietária do Blog que vos recebe, houve uma pequena colaboração; não supervisão total do texto. Será que Vinicius deu conta do recado?

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“Gato Preto”, “Urban Legend”, “A Visitante”, “SEAS” – Unbroken Productions cresceu muito e garantiu para si autores de destaque em todo o mundo virtual: Cristina Ravela, Jota Pê e Rafael Oliveira, premiados autores e consagrados por textos e histórias à altura de um roteiro de TV.

Não somente esses, a UP, como é popularmente conhecida, ainda lançou Vinicius Henzel. O rapaz, que agora é colunista aqui do Blog e que anda dando o que falar em publicações dos diversos grupos do MV, assina uma novela de história densa e extremamente complexa: não se trata de vingança, trata-se de uma investigação – uma mulher à procura de seu pai, desaparecido, nos âmbitos de uma família rica e poderosa.

Talvez o problema do primeiro capítulo de “Triângulo do Tempo” seja a forma como Vinicius conduz o enredo da história. Assim como em “Medeia”, trama resenhada semana passada, “Triângulo do Tempo” não se equilibra para apresentar a história ao leitor, isto é, tudo acontece de forma rápida, confusa e, muitas vezes, extremamente ilusória: pouca coisa convence.

Quando Regina, a protagonista, chega à cidade de São Paulo, descobre que seu pai desapareceu através de Vitor (este, sem nenhuma descrição). A moça vai à casa de seu pai (em que mora, também) e encontra um bilhete: “Quando você voltar, eu estarei longe. Fique longe da família Tower”. Obviamente, a questão dramática é lançada neste exato momento. Após, Vinicius apresenta-nos um flashback, uma cena em que o pai de Regina discute com um homem (o qual surge, também, sem nenhuma descrição). Em seguida, Vitor e Regina encontram-se e combinam de fazer algo a respeito do sumiço do pai – mais tarde, encontram-se novamente; Vitor tem uma grande ideia.

E aí, meu povo, a partir da cena 7, o percurso do primeiro capítulo ganha velocidade. Multiplicado por 5, eu diria, Vinicius atropela sentimentos, realidade e torna seu próprio texto uma infeliz ficção – no sentido mais falso da expressão: dá-se isso por conta da velocidade em que Regina aproxima-se de Rafael, um dos herdeiros e funcionário dos negócios da família Tower, envolve-o e faz com que ele tenha por ela um grande amor. Isso, porém, acontece de forma tão falsa e rápida, que eu, até agora, não acredito na criada “paixão à primeira vista”. Não, mesmo! Observe a cena:
RAFAEL: O que aconteceu?
REGINA: Com licença, senhor Rafael. Os papéis que o senhor pediu estão todos aqui.
RAFAEL: Pode deixar na minha mesa.
REGINA: Está bem.
Regina vai se retirando. Quando de repente…
RAFAEL (gritando): Espera! Eu quero conversar com você.
REGINA: Conversar comigo? Eu fiz algo de errado, senhor?
RAFAEL: Eu só acho que eu preciso te conhecer melhor.
Um clima estranho se preenche na sala.
RAFAEL: Já que você é minha secretária, você toparia tomar um café comigo depois do expediente?
REGINA: Tudo bem.
RAFAEL: O seu namorado não vai ficar chateado?
REGINA: Não se preocupe, eu não tenho namorado.
Regina sorri e vai embora da sala educadamente. Rafael sorri sozinho e solta um ar de alivio.
Tal cena é a segunda, após ambos se conhecerem. Como se não bastasse, o referido convite, feito por Rafael, acaba terminando em outra coisa...
CLOSE UP na areia fina do mar, Rafael tira a camisa e sai correndo até o mar.
RAFAEL (grita): Você não tem ideia Vitória, como esse lugar me faz bem.
Os dois se olham. Rafael pega na mão de Regina.
REGINA: É um lugar muito bonito. Eu nunca tinha visto o mar de noite.
Regina fica impressionada, e acaba se deixando levar pelos encantos de Rafael, os dois se olham fixamente.
Sim, o convite para o café terminou na praia. E, mais, com um beijo dos dois! O problema disso tudo, porém, Vinicius, é que soou rápido e forçado demais para um primeiro capítulo; para um primeiro encontro; para recém-conhecidos.

E, ainda, da mesma forma, aconteceu o encontro entre Alexandre, o patriarca da família Tower, e Regina. Assim que se encontraram, Alexandre a reconhece, porém, volta atrás e anuncia ter confundido Regina com outra pessoa, aceitando a mulher. Mais tarde, todavia, o administrador da KRASMANN pede a demissão de Regina. Confuso, não?

Vamos ao roteiro!
O texto de Vinicius não é ruim. Tem técnica e esforço – percebemos isso. Entretanto, a falta de vírgulas durante todo o texto e algumas complicações quanto a cabeçalhos e/ou ação de cenas, tornaram o roteiro imperfeito.
Vamos aproveitar uma cena para detalhar alguns erros:
CENA 15. INT. EMPRESA KRASMANN / RECEPÇÃO. SÃO PAULO. TARDE
ZOOM em Alexandre, que é um dos primeiros a chegar a empresa, ele se depara com a presença de Regina na recepção, abre uma expressão de surpreso. Ele fica nervoso e vai andando rapidamente até que ele fica parado em frente a ela, os dois se olham.
  • “SÃO PAULO” – Essa expressão, durante TODOS os cabeçalhos, é altamente condenável. A trama se passa em São Paulo? Então pronto! Não é necessário repetir o nome da cidade por todas as cenas. Se há necessidade de mostrar onde a história passa, então é simples: basta fazer um stock shot ou tomada geral da cidade.

  • “ZOOM” – Eu fico imaginando Alexandre chegando à empresa e a CÂMERA dando um ZOOM no rosto dele! Coitado do ator... Este recurso é ideal para cenas que querem detalhar alguma coisa; para cenas que querem surpreender o leitor e leva-lo a observar alguma coisa. Neste caso, o ideal seria começar a ação da cena com “Alexandre ENTRA”.

  • “(...) QUE É UM DOS PRIMEIROS A CHEGAR A EMPRESA (...)” – Marco de narrador onisciente, Vinicius informa-nos algo extremamente inútil para um roteiro de TV. Se o interesse é falar que o lugar está vazio e Alexandre é um dos primeiros a chegar, então seria melhor lançar “Alexandre ENTRA. Vazio, ali (...)”. Além disso, falta crase em “a chegar À empresa”.

  • ERROS DE PONTUAÇÃO – “ZOOM em Alexandre, que é um dos primeiros a chegar a empresa(.) (E)le se depara com a presença de Regina(,) na recepção, (e) abre uma expressão de (a palavra expressão não pede preposição posterior) surpresa. Ele fica nervoso e vai andando rapidamente(,) até que ele fica parado em frente a ela, (aqui, seria melhor o ponto e vírgula) os dois se olham.”
    Perceba, ali, repetição do pronome “ele”. Tal vocábulo poderia ser, em sua repetição, anulado.
O que também acontece no texto de Vinicius é a seguinte expressão em cabeçalhos: “INT. CASA DESCONHECIDA. SÃO PAULO. NOITE”. Além do já comentado “São Paulo”, ali, Vinicius apresenta-nos, sempre que surge nova locação, a expressão “Casa desconhecida”. Desnecessário. Poderia, direto, lançar de quem é casa – facilita o entendimento do leitor.

Por último, gostaria de destacar que, durante todo o texto, há descrições. Às vezes, realmente não há, entretanto, na maioria das vezes, elas estão lá. Mostram-se, porém, extensas demais para serem uma simples descrição... Observe: “sala (uma mesa e uma cadeira de cor marfin que está próximo a uma janela, um armário de cor marrom, próximo a uma parede de cor branca, e uma porta branca)” -- facilmente substituído por: “sala, com móveis marrons e rústicos, sobre o chão de taco”.

Finalmente, desejo que o autor continue se esforçando. Seu roteiro não é ruim – há muitos, piores, em nosso meio –, mas tem problemas que o torna imperfeito, algo facilmente negado por todos os que se valem de dedicação para escrever e publicar.
É isso.

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