Em meio a premiação do Troféu Imprensa BDZ nosso de cada ano, chegou a vez da série The Witcher, do nosso amigo Douglas Souza, ser a primeira a ganhar análise em 2016. A série que estreou em janeiro/2015, ganhou hiatus forçado porque o autor precisou descansar o corpicho e a mente numa clínica de recuperação pós-piloto - compreensível - retornou na fall season, revelou para mim e para o boss da Webtv o último episódio, mas só o exibiu neste mês. Eu estou falando de TRÊS episódios, eu disse TRÊS! Tudo parcelado em 12 meses sem juros. Mas será que o roteiro, indicado ao TI, compensou? Vejamos:
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O autor, fã de fantasia - no estilo de O Hobbit, O Senhor dos Anéis, e qualquer outro filme com dragões, reino encantado ou desencantado, fadas e gnomos -, trouxe um enredo sobre um jovem destinado a ser o feiticeiro (The Witcher). Li os três num único dia, mais precisamente, no último dia do ano, para fechar com chave de ouro.
= = CONTÉM SPOILER = =
A série começa no sonho de Adrian (Craig Horner), muito bem descrito, principalmente quando ele desperta. Ele sonha que a cidade é atacada por um dragão cospe fogo, saído dos quadrinhos da turma da Mônica, nem sei. Depois entra a Kristen Stewart, poderosa num cavalo, ao lado de um duende, gente. Lamentavelmente, o idoso levou um teco nas fuças, mas deu a princesa um frasco com líquido verde. A moça, encurralada pelos soldados, atirou o feitiço no ar e matou quase todos. Adivinha quem sobreviveu? O vilão Wolfric (Rory Mccann). Adrian assistiu a cena e deixou que a princesa seguisse seu rumo, só que ele tocou no líquido verde (sim, sobrou algum pra impulsionar o enredo) e eu fiquei esperando ele morrer. Que horror, né? Então...
Wolfric é levado por outros soldados até o conselheiro da cidade, irmão de Adrian. Vilanesco, atiça o homem contra a princesa avisando que ela é uma bruxa e todos saem à caça dela. Adrian é aconselhado por Ruffus a procurar o mago Gildore (Bruce Spence), só que a princesa, a essas alturas, já o encontrou devidamente nu.
Sim, minha gente, ninguém me avisou sobre essa cena e eu fiquei chokita. Tive que reler porque eu não estava acreditando, sério. Adrian chegou logo depois já morrendo (sorte a dele que chegou depois), mas se salvou, pois é o the witcher e o herói da série. Não pode morrer, não ainda.
Adrian ainda resiste, não quer seguir seu destino, mas depois de encontrar seu pai, Ruffus, quase morrendo - após ser atacado por Wolfric, o lobisomem -, Adrian decide seguir com a princesa e o mago nu para a batalha. Sabe-se que a cidade de Eldor - reduto da princesa - foi tomada pelo vilão Aladark (Joseph Fiennes) que quer, a todo custo, matar o feiticeiro por que, segundo a profecia, ele teria a missão de salvar o reino.
Com a cidade tomada por drakors - morcegos gigantes, na linguagem popular - o braço direito do conselheiro, Borowir (Clive Standen), conseguiu um truque para afastar os bichos. Enquanto Wolfric convencia o tal conselheiro e o povo que Adrian veio trazer a desgraça.
Mas foi um tal de espada reluzente pra cá, espada reluzente pra lá que, menino...O negócio rendeu. Mas não vou contar tudo não.
Vamos aos PONTOS NEGATIVOS!
1. Quanto a narrativa:
"Cena 02 (Eldor – Midlands – Dia – Ext.)
Cena aérea mostra a geral de uma grande cidade medieval com várias casas e torres cercada por uma grande alta muralha onde ao fundo na parte mais alta se localiza um castelo."
Li direto, sem vírgulas, porque né?...
O maior problema do autor é nos forçar a uma visualização confusa da cena. Assim, sem pontuação que pause a descrição e nos dê uma ideia mais clara do que ele quer mostrar. Assim sendo, reescrevo a cena:
"Vista aérea mostra uma grande cidade medieval com várias casas e torres cercada por uma grande alta muralha. Ao fundo, na parte mais alta, se localiza um castelo."
Encontramos outra:
"Em seguida ela para e olha para a barreira que lentamente vai se fechando. De repente quatro soldados atravessam a barreira em direção a princesa, que ao perceber eles vindo em sua direção foge em alta velocidade. Após o último soldado passar pela barreira ela se fecha novamente."
Alguém sentiu falta de vírgulas aí?
"Sarah caminha entre as arvores e a névoa com a pedra que brilha iluminando o caminho escuro."
Oi? Até a cara de Kristen Stewart combina com a minha neste momento. O autor tentou dizer: "Sarah caminha entre as árvores e, apesar da névoa, sua pedra brilha iluminando o caminho escuro". Acertei?
"A cena abre com a imagem em close numa fogueira acesa onde vai se abrindo. "
E a coisa vai se estendendo..."A cena abre numa fogueira acesa". Apenas.
A narrativa das batalhas poderia ter sido melhor. O autor tem ideias ótimas, mas na hora de pôr em prática cria quase um Deus nos acuda... Nada alarmante, visto que algumas, como a cena em que o mago nu Gildore relembra como escapou da fúria do dragão para salvar Adrian foi bem feita. É quase como escrever literatura quando o assunto é acidente, batalha e fuga, só é preciso respeitar a roteirização, seus parágrafos e cabeçalhos. Não é preciso escrever algo preocupado se as pessoas verão a cena como você, porque cada um vê de uma forma diferente. Apenas limite-se a se imaginar dentro da cena, agindo como cada personagem e escrever. A coisa costuma fluir melhor.
2. Quanto a repetição das palavras, expressões e frases:
"alta velocidade" - Foi a frase mais repetida durante a tríade épica do autor. 15 vezes mencionada, sendo 9 no piloto.
"Pelos espíritos!" - 10 vezes dita pelos personagens, o que seria equivalente a "Meu Deus!", "Minha nossa Senhora!", "Valha-me Cristo!", "Jesus, Maria e José!", "Masgente!", "Sem Or!" e por aí vai...
Obviamente que, ao longo dos episódios, repetimos termos e nos esquecemos de suas variantes. E acho importante uma salada de expressões e termos diferentes mesmo que tudo signifique a mesma coisa, pois isso enriquece o texto. Portanto, bora trocar "preocupado" por "tenso", "feliz" por "animado", "espantado" por "abismado", "loucamente" por...Não, "loucamente" você pode retirar, por favor.
3. Quanto ao roteiro:
"Ruffus corre em direção a cozinha, onde Adrian o acompanha sem entender e rapidamente abre a porta dos fundos. Adrian sai rapidamente deixando cair uma maçã no chão, e vai em direção ao cavalo que está parado preso à cerca."
"direção" e "rapidamente" usados tantas vezes que...Zzzz. Sem contar os problemas de roteiro quanto a mudança de ambiente. Podemos reescrevê-la sim ou com certeza?
"Ruffus corre em direção a
COZINHA
Adrian o acompanha, sem entender, e rapidamente abre a porta dos fundos.
Adrian SAI deixando cair uma maçã no chão. CLOSE na maçã caída.
Cena 13 (Arghon – Casa – Noite – Ext.)
O rapaz alcança o cavalo que está parado preso à cerca. [...]"
Também acho conveniente usar recursos para não repetir, não só ideias, mas também, nomes dos personagens. Tais como "o rapaz", "a garota", "a garçonete", "o herói", e etc...
PONTOS POSITIVOS!
1. Quanto ao enredo:
Alguns dizem ser difícil escrever ficção/fantasia, mas na verdade é mais fácil justamente porque você não precisa se preocupar com a realidade geral, e sim, com a realidade da obra. E o autor, fã do gênero, soube fazer o leitor mergulhar nesse universo mágico e acreditar em cada cena.
2. Quanto aos diálogos:
Simples, direto, com palavras do universo fantasioso, algumas - desconfio - retiradas de outras histórias épicas (complexo de JP Tusset?), mas de fácil compreensão.
3. Quanto a divulgação:
Simples, mas notória. Não houve grandes alardes, mas as promos estavam de fechar a Avenida Brasil, serião.
4. Quanto ao plot:
Foram necessários apenas 3 episódios para contar uma jornada da 1ª temporada sem furos, sem aquela sensação de que ficou faltando algo. O que seria broxante visto que a jornada durou o ano inteiro...
5. Quanto a trilha sonora:
Perfeição. Se você optar por ouvir enquanto lê a cena vai se sentir dentro dela. O autor escolheu a dedo, sendo bastante criterioso para que estivessem de acordo com o cenário e a situação.
Apesar dos tropeços, The Witcher é uma série com potencial que, se for analisada pelo autor, tende a ficar ainda melhor. Citei todos os problemas, mas creio que os dois maiores deles sejam a confusão na narrativa e a repetição de certas frases, pois chegam a incomodar.
A série foi indicada ao TIBDZ2016, pois, como eu havia mencionado, ela tem potencial, tem uma história verossímil com a sua própria realidade, excelente enredo e um bom - não ótimo - roteiro.
A trajetória de Adrian, até o momento, foi condizente com os estágios da jornada de um herói. Desde que nos foi apresentado em seu mundo comum, o chamado da aventura, a recusa, a aceitação, provações e inimigos, até a chegada da recompensa. Na verdade, é a representação mais literal da jornada do herói, uma vez que isso pode acontecer em qualquer obra, mas de forma sutil. Eu dou nota 8.
Abraço, people!