Primeiras Impressões | The Last Of Us

Cristina Ravela
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Cidade mágica, bizarrice, suspense e confusão de cenas na primeira série estreante do ano.



The Last Of Us intriga pela ficção que ela propõe; Imagine você sofrer um acidente e acordar num hospital que está totalmente fora do seu percurso, ser raptada por dois caras que dizem querer o seu bem, ficar sabendo que há pessoas que desaparecem alí sem que a polícia se interesse em saber como, e descobrir que a estrada que te levaria para fora dessa estranha cidade termina do nada, te deixando presa para sempre no mesmo lugar?
Cleyton Correia mergulha no misticismo lúdico para envolver os leitores nessa trama curiosíssima que traz Anna Sophia Robb no papel de Emily.
Tudo começa com a protagonista dirigindo seu poçante e falando com o seu pai por telefone. Daí você fica sabendo que a Emily escapou de um grave acidente com um ônibus escolar em que vitimou uma tal de Keith, entre outros desafortunados. Depois o telefone toca de novo e Emily fica roxa de susto ao ver pelo visor do celular que se trata de KEITH, mas a nossa heroína não tem tempo de atender, nem de cogitar a ideia de estar fora da casinha; Um bicho não identificado pelo autor (certamente um ser da estranha cidade de Mirella) atravessa o carro, cenas do ônibus escolar capotando aparecem como flashbacks, e tudo apaga. Emily já acorda no hospital de Mirella.

Sem dúvida o suspense marca muito essa estreia e você percebe que Emily não foi escolhida ao acaso. O toque de horror já no piloto mostrando um garoto comendo o próprio braço pode ser um chamariz pra quem estava torcendo o nariz para o gênero fantasia. E cidades onde coisas estranhas acontecem sempre se tornam um atrativo, ainda mais que lidar com ficção proporciona ao autor uma grande vantagem: Não se prender ao realismo; Brincar com o absurdo.
Mas não se anime muito; Alguns erros de português (nada muito grosseiro #Gzuis abençoando todos nós) e principalmente, de roteiro podem prejudicar a leitura.

Toda cena precisa ser identificada ( a menos que seja uma compilação de cenas finais, como ocorreu na série), ainda que você não queira ou não possa revelar o local. Nem que seja como "Local desconhecido". Emily sofreu o acidente e acordou num hospital, mas como o autor não quis revelar de imediato onde ela estava, acabou usando apenas o termo "Cena 3". Neste caso, abrir uma nova cena só quando a tela clarear, ou seja, sair do modo tela preta, porque aí os leitores verão onde Emily estava. As cenas abertas sem identificação deixam um vazio no texto:

Cena 2
[...] Através da visão turva, Emily consegue ver as patas do que parecer ser um cavalo, mas antes de ter certeza ela desmaia...

Cena 3
Na escuridão se ouve barulhos, gritos destorcidos e desconectados (lembranças do acidente com o ônibus escolar de Emily, misturados com o dos médicos). Close no rosto de Emily arregalando os olhos, como se saísse do fundo do mar prestes a se afogar.

A má localização das rubricas, como aconteceu em Coisas da Vida:

EMILY
- EBA! Sorte a minha! (irônica)


Se você não for uma pessoa tão irônica quanto ela com certeza deve ter relido esse diálogo por conta da rubrica que se revelou depois da frase. Ok, você é irônico (a).  Mesmo assim a rubrica vem antes da frase .

O interessante foi a divisão por 4 atos que facilita muito ao autor a definição de todo o percurso do episódio. Já estou aderindo e amando o resultado, afinal, não seria a primeira vez que aprendo com os meus colegas de profissão. O termo "A tela se fecha num baque" que sempre uso, foi copiado descaradamente de Maurício "Maurus" Coelho, autor de Ghosts e Adytum, e que infelizmente foram canceladas.

É isso, my people, uma pena que nem todo mundo tem uma definição sobre o estilo que se quer escrever e acaba num texto confuso e desanimador já no piloto. As outras obras da Dream TV poderiam seguir o exemplo do novo autor, porque,  apesar de alguns detalhes notáveis citados, The Last Of Us está sendo a melhor série da emissora.

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