Sem protelarmos, vamos ao que me trouxe aqui. Recebi um pacote de obras recém-estreadas ou lançadas há algum tempo no mundo virtual. Sabemos que a leitura está cada vez mais precária e escrever é o melhor remédio pra quem também acha que sua trama não é lida por ninguém. Mas se aventurar no mundo a la Coringa não é nada agradável para os perceptíveis aos erros e docentes na arte de escrever. Abro a crítica de “Obsessão Compulsiva”, série da “emissora” Unbroken Productions, assinada por Everton Brito, com tais palavras.
Estranhou? Essa série já foi criticada? Conheça o olhar de Batman!
Até logo!
A estória de “Obsessão Compulsiva” é clara: duas mulheres, Desirée (Anne Hathaway) e Cecília (Megan Fox), no contexto de um assassinato. Com Jesus Luz à pele de um personagem artificial – muito artificial –, o roteiro deveria avultar ao longo da trama, já que conta com uma estória de suspense. A mistura entre o estilo citado mais o drama, em que as duas personagens lutam pelo amor de Alejandro (Jesus Luz) e, em pano de fundo, um assassinato acontece – assassinato, esse, que destrói a obsessão de ambas pelo personagem – é, no mínimo, um desvario, afinal, perguntamos-nos: quem morreu? Quem matou? Por que a paixão acabou? Por que estou lendo essa série? Iniciamos à série sem saber absolutamente nada, além do clichê de duas pessoas lutando pelo amor de outra. Realmente, é um caso compulsivo, querer ler.
A Língua Portuguesa, ao longo dos anos, foi adquirindo muitas regras, mas nenhuma alterou seu sentido básico de formação de palavras e suas regras ortográficas, fundamentais para o desenvolvimento de uma escrita correta. Mas Everton não teve aula de Português na escola; essa é a única explicação para erros como (retirados apenas da sinopse da série):
A) “Mais quem será o assassino” – uso do advérbio “mais” de forma errônea. A conjunção “mas”, seria o certo.
B) “Alejandro (Jesus Luz) esse homem que encanta” – a expressão “Alejandro”, que funciona como vocativo, deve ser posposta de vírgula.
C) “Então façam suas apostas, a busca vai começar” – a conjunção conclusiva “então” pede vírgula posposta a ela.
Partindo pro roteiro, no episódio um, intitulado “Onde tudo começou”, lemos, de cara, uma frase temporal. Não que me incomode muito, mas de acordo com os termos de roteiro, é fundamental a inserção da palavra LETREIRO antes de escrever o anúncio de local/data/etc.
O uso consecutivo do artigo “Um” e suas derivações, ao longo do texto, é detestável. Em exemplo, “Uma mulher está prestando depoimento sobre um assassinato. Ela foi a assassina.” – a primeira linha, pós cabeçalho. O que se subentende? Que o uso do artigo feminino serve, exclusivamente, para manter o mistério ao público sobre quem é o personagem. Entretanto, na primeira cena do roteiro, já surge o nome de Cecília. Qual a utilidade do artigo? Enfim. Prossigamos. Logo à frente, o autor dá início a um flashback, revelando o assassino, citado na estória, e o assassinado: Alejandro fora morto pela arma de Cecília. A cena é a pior do episódio, que, por si, se resume nisso. Logo à frente, temos a falsa, confusa e má elaborada cena de “impacto” de “Obsessão Compulsiva”, que deve ser menor que esta resenha; trata-se de Desirée, que anuncia que a verdadeira assassina é ela, confrontando sua rival. Porém, esse confronto não se dá de forma contínua, prestes a formar o clímax; acontece de forma relaxada, desgastada, com falas curtíssimas e uma apelação pro mistério daqueles...! O autor, em si, não deve saber o que ele escreve e, muito menos, o que publica. No tocante a estória, não existe e as falas estavam, simplesmente, espalhadas numa página papagaiada, sem emenda, continuidade e ar de profissionalismo, o que exibe qualquer roteirista. Inclusive, o primeiro episódio acaba nas seguintes falas:
CECÍLIA - Essa história não acabou ainda...
DESIRÉE - E eu sei.
CECÍLIA - Alejandro era só meu, eu tinha o direito de matá-lo!
DESIRÉE - Não esqueça que antes de você, ele tinha uma noiva que inclusive ia se casar com ele, mais eu atirei antes dele dizer sim.
DELEGADO - Chega! Eu quero saber dessa história desde o inicio, onde tudo começou.
DESIRÉE - Então começa por mim.
Eu não sei o propósito do autor e da emissora com essa coisa patética, que transforma em carnaval algo muito sério, que é a produção de um roteiro para um público, mesmo que virtual, amante do gênero. Não se trata da famosa frase: “erros acontecem”, mas de “vergonha na cara é fundamental”. E eu não queria terminar a resenha jogando esse balde de água fria no autor e ir embora; gostaria de jogar um, cheio de pedras de gelo, na emissora, que acha que está no ar pra ser, simplesmente, uma emissora. Não está. Está para contribuir com boas obras e isso não é análogo à ideia de ter grandes autores, mas prepará-los, seja com um curso ou o que for. Infelizmente, cada emissora tem a crítica que merece. Cada autor está na emissora que consegue entrar. Cursos online, gratuitos, são fundamentais para o crescimento de uma pessoa que visa um futuro como atuante da área; não, simplesmente, um “falso sucesso” numa rede virtual.
De 0 a 10, “Obsessão Compulsiva” está longe de ser o que o nome incita e recebe 2,5 pela surpresa sobre quem era a assassina – no caso, uma dúvida. Peca nos diálogos, na falsa estrutura de roteiro e pela incrível marca de apenas UMA cena, em todo o episódio. Ah... Eu não ia falar, mas Cecília só caberia no papel da tia da Megan Fox.
Pelo menos tem uma coisa que Coringa e Batman concordam: impossível, achar algo bom nesse mini-mini-piloto.