Primeiras Impressões | Espírito Diabólico e cansativo

Cristina Ravela
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Hoje é dia de rock, bebê!
Mas também é dia de review e atendendo ao pedido do autor Thiago dos Santos - sem medo de ser feliz - trago a minha impressão com a série Espírito Diabólico.


Não encontrei a sinopse - coisa muito comum nessas emissoras - e acho até que seria mais fácil encontrar uma vaga no Rock in Rio do que sinopse, mas tudo bem, vamos resumir.

A trama fala sobre demônios, pactos, sangue, muito sangue e sexo. Pronto, resumido.



Eu já havia feito uma review particular, notei que o autor fez algumas mudanças, porém, achei arrastada em vários momentos. Me senti assistindo a uma novela do Maneco (sendo que só conseguia assistir a alguns minutos, enfim). O maior problema para quem está começando a roteirizar é sair daquela zona - que não é a mesma que Lucas Campos conhece - de que "Roteiro é detalhe e tudo que você veria na tela, deve constar no papel". Nem mais nem menos. Há situações que podem e devem ser substituídas para agilizar uma cena e evitar abreviar a ação.

a. O autor:
"Aliviada, We'e'ena corre e abaixa-se tirando o filho do chão."

O ideal:
"Aliviada, We'e'ena se apressa e tira o filho do chão."

Você ficou perdido nessa cena? We'e'na não estava nem longe assim pra correr, sério.


b. O autor:
"VEMOS o homem, cena anterior, parado. Elvira se vira e levanta-se."

O ideal:
"VEMOS o homem, cena anterior, parado. Elvira se levanta, assustada."

Você percebe que ela viu o cara e, tão logo, virou-se. Simples.


c. O autor:
"E ele sai, fechando a porta. Elvira fica pensativa e entra por uma porta. Da porta, câmera mostra Elvira abrindo a chave do chuveiro. O banheiro é pequeno e limpo. A água escorre por todo seu corpo."

O ideal:
"E ele sai, fechando a porta. Elvira, pensativa, entra no box. O banheiro é pequeno e limpo. Da porta, Elvira abre o registro do chuveiro e a água escorre por todo seu corpo."

d. O autor:
"E ela pega a criança, ainda suja, de cima da cama e puxa a blusa pra cima mostrando os seios e aproxima o bebê do mamilo, e ele pega-o, sugando o nada."


O ideal:
"E ela pega a criança, ainda suja, de cima da cama e levanta a própria blusa. Com os seios à mostra, Elvira o amamenta."


A obsessão por certas palavras:


"A água do lago borbulha e um líquido vermelho mistura-se com a água clara." 

Bastava chamá-lo de sangue.

"Ele bebe um gole do líquido e coloca a caneca no balcão, abrindo um caderno."

"Uma partícula branca dissolve-se em meio o líquido."





Alguns pequenos erros de português ou mais um com problema no teclado, órfão de teclado virtual e desprovido do atalho para copiar e colar?

"Ela corre no acostamento a passos agíeis." 
"a meia-luz" 
"florescente" 
"ELVIRA- Eu e você sabemos que não é tão fácil assim. Cê só precisa ficar com ele pra mim ir trabalhar." 
"Anda até o armário e puxa uma das gavetas e retira de lá um chicote e sorrir." 
"De costas para o altar e ajoelhado Aragão, ele reza e a LUZ de uma vela ilumina o lugar."

"O carro de Elvira para no meio-feio e ela usando, sobretudo preto salta do veículo."

Falsa dramatização quando a dançarina da boquinha da garrafa - os fortes entenderão - após atropelar uma mulher, vê o bebê dela caído no asfalto:

"ELVIRA- (com lágrimas nos olhos) Você era filho dela. Eu tenho certeza. Me perdoa, garotinho. Não queria estragar a sua vida, não mesmo.".

Você tem certeza, Elvira? It's serious? Não poderia ser sobrinho, irmão mais novo, filho da vizinha? Tu és vidente, garota?


Difícil dividir o piloto em pontos negativos e positivos, mas vamos ver.


PONTOS NEGATIVOS:

1. Todos citados acima. Ok, serei específica. Detalhes demais até o Roberto Carlos deve estar cansado disso. Você tenta dar clareza ao que está escrevendo e acaba atrapalhando. Daqui a pouco você vai descrever quantos passos o personagem deu até chegar na porta, quantos milímetros de sangue escorreu daquele corpo, quantos movimentos a mulher deu durante o...Você me entende, né?

2. Falta de objetividade. Não sei qual é o objetivo central. Não sei nem quem são os protagonistas. Não há sinopse, não há perfil dos personagens.

3. Erros de português, alguns, são até passíveis de crítica. Como linguagem coloquial (dependendo, podem aparecer até na narrativa), algumas supressões discretas da vírgula e ponto e vírgula, mas a narrativa no qual o padre reza foi de doer. Mau uso da vírgula acaba com o sentido de uma frase.

4. Texto, na maior parte, em negrito. Só os diálogos escaparam. Não copiem o nobre colega, please.

5. Cenas demoradas demais e não me refiro ao longo episódio, o problema é que foi desenvolvida de um jeito que ficou um marasmo mesmo.

6. Título. Espírito Diabólico lembra título de filme de terror trash. Eu não sou a perfeição quando o assunto é o nome da obra, mas...Esse não ficou bom.



PONTOS POSITIVOS:

1. Aceitou as mudanças dadas por mim e deu o seu melhor em algumas partes do roteiro.

2. Depois d'eu ser chamada de selvagem - pela crítica anterior a Castelo de Cartas - é muita coragem do autor me pedir review, sério.



3. O padre Aragão me dá medo. Eu diria que foi o único personagem que deu destaque à trama.


Espírito Diabólico peca por ser cansativa de ler, personagens pouco cativantes e uma trama arrastada. Mas quem nunca levou ao pé da letra a frase "Roteiro é a imagem escrita", que atire o primeiro teclado.

Para quem quiser conferir, AQUI.



Até mais, amigos!


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