Alguém aqui se lembra da série Psicose, do nosso amado Gustavo Negreiros? Aquela série que ganhou o mesmo nome do clássico de Hitchcock certamente para disputar referências no Google? Pois bem, não vejo nada de tão errado em usar o mesmo nome, mas muito cuidado para não detonar uma obra prima. Essa semana eu acompanhei a estreia da webnovela Castelo de Cartas, de Rennan Lopes, pela TVN e, como você já percebeu ela tem o mesmo nome da série da Netflix. O resultado você confere logo abaixo.
Sinopse:
Poder. Dinheiro. Popularidade. Status. Maria Fernanda se sente uma deusa com todos esses privilégios aos seus pés. Porém, sua família esconde um segredo que pode desestruturar esse castelo de cartas. Lucas, o filho de Fernanda, não puxa nada à mãe. O moço é feliz, amoroso, gentil. Ao conhecer Vitória, seu mundo vira de cabeça para baixo. Parece que a família da moça tem um histórico nada amigável com Maria Fernanda, que, aliada com a ex-noiva de Lucas, fará de tudo para acabar com a vida amorosa dos dois.
Não se engane. Maria Fernanda está disposta a tudo para conseguir o que quer.
Bem, a história é sobre uma mulher que tem muito poder, mas cujo segredo pode destruir seu castelo de cartas. Ela não vai com a cara da futura nora e pretende armar contra esse namoro, porque deve ser muito importante para ela.
Ai, amigo, pare porque ficou feio. É com essa sinopse que você saiu pra encarar o mundo? Parece tão sem enredo quanto Babilônia. Mas vamos continuar.
O autor:
CENA 01/INTRODUÇÃO
Cena embalada por um instrumental de mistério, mas ao mesmo tempo calmo.
Vê-se um bebê sendo colocado nas mãos de uma jovem mulher, cujo rosto não é revelado. Ouvem-se gritos, tiros, choro, desespero.
A cena é narrada por Lima Duarte.
NARRAÇÃO – Quem abre o coração a ambição, fecha-o a felicidade.
Pra começar não se deve abrir um cabeçalho com uma introdução, flashback ou um flashforward. Cabeçalhos são para escrever o lugar e temporalidade em que se passa a cena que, inclusive, nem foi citada. Quanto ao excelente ator Lima Duarte, sinto dizer, mas o nome dele não devia ter aparecido, ainda mais para citar um provérbio chinês (com modificações) com ausência da crase. O site não tem uma página dedicada aos atores escalados? O diálogo deve mostrar quem fala.
A regra:
FADE IN
CENA 1 LUGAR DESCONHECIDO [INT. / NOITE]
SONOPLASTIA: Suspense
Um bebê sendo colocado nas mãos de uma jovem mulher, cujo rosto não é revelado. Ouvem-se gritos, tiros, choro, desespero.
NARRADOR (V.O) – Quem abre o coração à ambição, fecha-o à felicidade.
Uma das coisas que me espanta num roteiro é a mania do autor de escrever as relações entre os personagens, porque não basta mostrar em diálogos.
"Lucas, o filho de Maria Fernanda, entrega uma caixa de presente para a mãe."
"Kátia Flávia, a namorada de Lucas, anda desengonçada pela rua, quase caindo do salto."
Kátia Flávia foi quase a morte, sério.
"CENA 05/INT./SALÃO DE EVENTOS/CAMARIM/NOITE
Ao chegar no camarim, Vitória senta-se na cadeira e olha-se no espelho rodeado por pequenas lâmpadas. O estilista responsável pelo desfile entra."
Ah não, pare! O cabeçalho já diz que o cenário é um camarim, precisa mesmo repetir? Mas como se não bastasse, eis que eu leio um "O estilista responsável pelo desfile...". Afinal, de que outra forma você ia saber que o cara, além de estilista, também foi responsável pelo desfile, né?
PONTOS NEGATIVOS
1. Além dos erros de roteiro e alguns poucos de português citados? Achei a Kátia Flávia forçada. O autor quis dar graça colocando essa desgraça no texto que nem me fez cócega. Para piorar tem o seu Arturo, numa cena em que ele se borra todo, SE BORRA MESMO! Um velho ranzinza que usa a seguinte frase: "Então era por isso que eu tava sentindo essa poltrona meio fria e melequenta."
Quase parei aí, mas o blog precisa de review pra esquentar essas noites de falso inverno...
2. Tentar forçar uma cena parece ser o prazer do autor. Lucas vai atrás da vó quando ela sai da mesa
repentinamente, após o furação Kátia Flávia passar. Mas ela isenta a garota de culpa e começa um filosofia barata do nada:
"INGRID – Lucas, o que eu posso te dizer é apenas uma frase famosa. Há mais mistérios entre o céu e a terra do que pode supor a nossa vã filosofia.
LUCAS – E o que isso quer dizer?
INGRID – Você só vai descobrir isso vivendo, encaixando as peças desse grande quebra-cabeça que é a vida, montando esse castelo de cartas. Mas muito cuidado, porque se bater um vento, o castelo vai cair!"
Isso foi para explicar o título? Se o autor escreve para gente alienada, tudo bem, mesmo assim a frase entrou numa cena sem noção, sério.
3. Novela não precisa ser chata. Cenas curtas para mostrar algum personagem importante, como a modelo Vitória, sua chegada em casa, enfim. Achei superficial. Não estou mais tolerando nem novela assim na TV. Mais agilidade, menos mimimi, please.
4. Repetição e cena encurtada por uma narração pobre.
"A lancha é pilotada por um homem bêbado ao lado de seu amigo. Enquanto isso, Vitória nada nas águas do mar de Copacabana, sem perceber a lancha em alta velocidade. A lancha acaba atropelando Vitória, que fica desacordada."
A regra:
"A lancha é pilotada por um homem (bêbado e etc...) ao lado do amigo (características).
Enquanto isso, Vitória nada, despreocupada. Ao fundo, a lancha em alta velocidade. Quando Vitória vê, se mostra aflita, mas não há mais tempo; A lancha a atropela em cheio."
5. Eu poderia dar nota 10 só pela abertura ter Bajofondo, aquele tango queridinho de João Emanuel Carneiro, BUT...Não entendi a abertura, mais parecia um monte de cenas curtas jogadas na tela, tudo muito rápido, sem definição e ainda com toque sobrenatural, fugindo do gênero da webnovela.
PONTOS POSITIVOS
1. Eu soube que o autor tem 12 anos e, apesar de uma estreia não muito agradável, pelo menos não começou tão péssimo quanto seus colegas mais velhos, vide alguns da Unbroken Productions.
O que posso dizer diante disso?
Bom, como estou de bom humor, mas sem paciência, apenas digo: melhore.
Quem quiser acompanhar, AQUI.