Foi bom, gostei de estar com vocês até aqui! Aos desavisados, não traço minha despedida, mas meu até logo. A justificativa? É fim de ano. 13º salário vem aí e eu não gastaria com nada, a não ser com os aperitivos de Natal e Ano Novo, que são muito melhores que qualquer obra virtual. A propósito, uma visão pessimista essa, minha, não?
Pois bem, meus caros. Eu já achava que fecharia o ano com a crítica anterior, mas Ari Rodrigues resolveu manifestar-se nos comentários da última crítica. Fez nas seguintes palavras: “Faça reviews das web-novelas do TV Mix, é a melhor web-emissora, lá não deixam entrar webs com erros de português e são todas muito bem-escritas.”
Missão dada é missão cumprida: escolhi “Sentimentos Indestrutíveis”, de Caíque Martins, para a forca da noite. Siga!
"Malhação"! Jovens suados, na praia; prancha para todo lado; traição, armação, alucinação e muita, mas muita, enrolação! A novela de Caíque Martins, tipificada como “teen” pela TV Mix, revela que a grande inspiração de obras como essas é a decaída Malhação, da Globo. A exibição televisiva, que já não é grandes coisas há anos, serve de inspiração. Sabemos do baixo cacife de muitos amadores virtuais; agora, maior ainda torna-se o abismo no roteiro, quando esse amadorismo mistura-se à inspiração da atração mais decaída da emissora carioca.
Então... "Malhação" e “Sentimentos Indestrutíveis” possuem muitos pontos em comum: toda aquela clichêzada que todo mundo já sabe. Mas e quanto às outras obras virtuais? Quais as semelhanças?
Para começo de conversa, gostaria de dar créditos ao Ari Rodrigues, pois ele realmente estava falando a verdade. “Sentimentos Indestrutíveis”, em particular, só possui UM erro de Português em todo o seu capítulo de estreia, com a expressão “vou ir”, na cena sete. Fora isso, não existe erros de Português; pelo contrário, a linguagem é bem clara e limpa. Gostei muito e isso já soma muitos pontos, devido ao cenário do mundo virtual atualmente.
Entretanto, roteiro que é roteiro não é feito apenas de bom Português. Tem que, acima de tudo, ser roteiro. E, infelizmente, “Sentimentos Indestrutíveis” não é. Pra ser roteiro, tem que ser o sensível, tem que ser aquilo que você escapa devagar (particular às novelas e séries, por exemplo), tem que ser o desenvolver da trama a partir das falas, e não um “ela estava pensando dessa forma” ou “ele estava decidido a fazer aquilo”. Dizer aquilo que o SEU personagem pode dizer é extremamente desmotivador – quando se lê roteiro –. Por isso, a novela de Caíque não se enquadra ao gênero.
Observe trechos e os erros apontados:
- “Em seguida, são mostradas algumas fachadas de estabelecimentos da cidade, como o Colégio Escolhas, que está fechado devido ao fato de ser verão e a escola estar em período de férias;”
Observe a descrição onisciente por parte do narrador. Ele sabe de tudo; não está descobrindo conosco.
- “CENA 1: CASA DE RACHEL, QUARTO, TARDE, INT. Rachel, uma garota de 17 anos, está em seu quarto, sentada em uma cadeira, guardando alguns cadernos dentro de uma mochila. De repente, um homem entra no aposento.”
Essa é a primeira cena do capítulo. Como alguém se interessa por um texto assim, que começa não como se estivesse no capítulo 1, mas no 10º?
- “IAGO – Eu já te falei que eu te amo hoje, Andressa? / ANDRESSA – Ainda não. / IAGO – Pois bem, eu te amo, te amo, te amo.”
Falas idiotas.
- “Ela se vira para a origem da voz e vê que há um garoto se afogando. É Iago. Ela nada desesperadamente até o local, segura o garoto com os braços e o puxa até a areia. Lá, ela começa a fazer uma espécie de massagem na barriga dele, até que ele cospe toda a água para fora. Os dois ficam se olhando por alguns segundos, sentindo algo especial e inexplicável. Por impulso, Rachel aproxima seu rosto do de Iago a fim de beijá-lo. Ele quase cai na tentação, até que cai na real e consegue desviar do beijo da garota, se levantando.”
OK: você conhece a pessoa não por acaso – vai salvá-la – e se apaixona por ela. O que você faz? Beija-a! Simples, não? Não! Difícil de aceitar.
- “A campainha toca. Oscar vai até a porta e a abre, revelando Andressa e Iago.”
A moradora da casa, a filha de Oscar – Andressa – não tem as chaves da casa?
- “Iago está em seu quarto, se olhando no espelho. Ao seu lado, está sua mãe, Teresa.”
Quem é Teresa? “Oi, Teresa. Prazer! Gostaria de conhecer um pouco mais sobre sua aparência, mas o autor não me deu a oportunidade. Além disso, como você foi parar ali, Teresa? Ai meu Deus, ela é uma assombração!” – minha reação.
Pois bem... Definindo os erros de “Sentimentos Indestrutíveis” em três palavras, diria: DESCRIÇÃO, VEROSSIMILHANÇA e ROTEIRATURA. E esse é o pacote de destruição da obra:
– Você não pode chamar João de João, se João é Maria. Da mesma forma, você não deve chamar o texto de roteiro, se ele é um romance. E eu não leio obras assim.
– Além disso, "nada" acontece se você não descrever os personagens, mas você deixa de ganhar muitas coisas, inclusive leitores. Não leio uma história que nem o personagem me é apresentado.
– E também não leio histórias que se passam no núcleo da Terra – um lugar inabitável; minha barreira realista não permite! Por isso, também não leio tramas em que alguém conhece a outra em dois segundos e já a beija; ou, senão, traça diálogos extremamente robóticos.
Portanto, meus amigos, concluo minha última crítica do ano com essa tríade negativa. “Sentimentos Indestrutíveis” não é ruim, mas não é o que diz ser: nem é roteiro e nem é novela.
Avalio pelos diálogos e pelo Português. A trama recebe 4,5.
Um farto Natal e uma venturosa virada de ano a todos.
Até 2016!