Na ponta da língua | Conheça a nova série de postagens

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Eu, Rafael Oliveira, formado em Letras pela UFF/RJ, apresento a vocês a nova série de postagens do Blog da Zih. 

Para mandar bem no roteiro sem derrapar na gramática, convido todos para acompanharem essa série de posts que começa hoje. Espero que gostem e disseminem as regrinhas e particularidades que vamos conversar através deste canal.

Desde já, sejam bem-vindos ao mundo de "Na Ponta da Língua"!


HOJE: LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

Neste primeiro encontro, acho bastante importante percebermos alguns aspectos que fazem da língua portuguesa uma disciplina pautada em duas realidades: a oral e a escrita.

Falando especificamente do primeiro caso, sabemos que a linguagem, em seu sentido estritamente oral, nasceu há bastante tempo. Se formos pesquisar, descobriremos que ela já se faz presente entre nós desde que os primeiros clássicos literários foram lançados - a saber, Ilíada e Odisséia, contadores da guerra de Troia (exatamente, aquela do cavalo de madeira). E como você acha que essa guerra, que aconteceu mil anos antes de Cristo, chegou até nós? É claro, através da oralidade: um foi passando para o outro... E, como telefone sem fio, chegou cheia de possíveis incompreensões.

E por que eu disse tudo isso? Simples, para percebermos que, antes mesmo do alfabeto, havia comunicação. Acontece que essa comunicação surgiu e desenvolveu-se de forma tão acelerada que exigiu o surgimento de um outro código, a escrita. Esta foi submetida a várias padronizações - as quais denominamos regras. E tais regras, fincadas na gramática, ganharam ar de normas e, por isso, chamamos de gramática normativa.

Do que se trata a gramática normativa?

A gramática normativa leva em consideração o português bem falado, aquele que você evoca na hora das tretas de Facebook e esquece quando vai mandar mensagem no grupo da família. Bem... Você não está errado!

A língua portuguesa é situacional. Cada situação exige um tipo de linguagem - e lembre-se que esta pode ser verbal ou não-verbal -. Vejamos alguns níveis:


  • NÍVEL 1 - NORMA CULTA
  • NÍVEL 2 - LINGUAGEM COLOQUIAL/POPULAR
  • NÍVEL 3 - LINGUAGEM REGIONAL
  • NÍVEL 4 - GÍRIAS
  • NÍVEL 5 - ERUDITO

Tais níveis classificam a forma como se fala e como se escreve em língua portuguesa, mas devemos perceber que não há uma correta. Se houvesse, não teríamos tantos níveis, não acha? O que devemos perceber é em que situações esses níveis podem se expressar.

  • NÍVEL 1 - NORMA CULTA
O primeiro, por exemplo, expressa-se em uma audiência judicial, em uma reunião com o reitor da universidade, com uma pessoa mais instruída.

  • NÍVEL 2 - LINGUAGEM COLOQUIAL/POPULAR
O segundo, entretanto, ocorre com os amigos, com a família, em situações confortáveis e corriqueiras.

  • NÍVEL 3 - LINGUAGEM REGIONAL
O terceiro, no dia a dia de cada um, em suas cidades e, por sua vez, com os vocabulários destas.

  • NÍVEL 4 - GÍRIAS
O quarto acontece com as pessoas que compartilham do mesmo nível de linguagem e compreendem os significados das expressões.

  • NÍVEL 5 - ERUDITO
Por fim, o quinto, entre pessoas de alto nível linguístico e que, por isso, utilizam sempre um conjunto de expressões complexas e entendíveis entre si.

Em todos os níveis de linguagem que comentamos, importa apenas uma coisa: a comunicação. É necessário ser entendido e, para isso, fazer-se entender. O texto de Luis Fernando Veríssimo, "Aí, galera", comprova como um autor (em nosso caso, roteiristas) que não sabe empregar níveis de linguagem variados a seus personagens consegue estragar boa parte do texto. Leia-o abaixo.
Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotipação. Por exemplo, você pode imaginar um jogador de futebol dizendo "estereotipação"? E, no entanto, por que não?
— Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.
— Minha saudação aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares.
— Como é?
— Aí, galera.
— Quais são as instruções do técnico?
— Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico, concatenarmos um contragolpe agudo com parcimônia de meios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturação momentânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da ação.
— Ahn?
— É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça.
— Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?
— Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas?
— Pode.
— Uma saudação para a minha progenitora.
— Como é?
— Alô, mamãe!
— Estou vendo que você é um, um...
— Um jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponde à expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expressão e assim sabota a estereotipação?
— Estereoquê?
— Um chato?
Percebeu? A situação não exigia uma comunicação culta, quase erudita, mas esta fez-se presente.

Por fim, não existe "erro" ao falar como quiser em WhatsApp, Facebook, entre amigos. Existe erro ao falar "Eu quero ver tu provar o contrário, miserável!!!" em uma sessão judicial. (sim, amigos, isso é real e acontece várias vezes por dia Brasil à fora...)

Enfim. O que desejei passar nesta aula foi a importância de conhecer cada nível de linguagem para diferenciarmos dois aspectos:

  1. Existe a linguagem oral e a verbal. A primeira, em maior parte, é mais ampla e variável. Não se faz com múltiplas regras. Entretanto, varia de ambiente para ambiente, público para público.
  2. Existem formas de se expressar e todas elas são cabíveis, dependendo, sempre, do contexto em que são utilizadas.
Logo, para nós, roteiristas, é importante saber quando utilizar falas mais coloquiais e falas mais formais em nossos personagens. Além disso, como não tornar nosso roteiro uma grande coloquialidade, pois entende-se que, se não em diálogos, o uso da norma padrão culta da Língua Portuguesa faz-se necessário.

É isso. Até a próxima!

Referência bibliográfica
VERÍSSIMO, Luís Fernando. Aí, galera. Correio Braziliense, Distrito Federal, 13 maio 1998.
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Este texto é de propriedade exclusiva do autor. Caso queira utilizá-lo, insira a seguinte referência:
OLIVEIRA, Rafael. Na ponta da língua: Linguagem e comunicação. Edição 1. Disponível em: http://blogdazih.blogspot.com.br. Acesso em: [dia] [mês]. [ano].

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