Antologia "Era uma Vez..." | Conto II: Mundo Perdido

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Conto II: Mundo Perdido




Sobre a obra: A antologia "Era Uma Vez" nasceu de um desejo em contar histórias simples, mas que pudessem ser deslumbrantes. 

Onde as possibilidades fossem infinitas e as aventuras fantásticas. Um anseio do autor em viajar e fugir um pouco da triste realidade que se vive no país. 

Essas histórias não são meios de escape ou uma forma de ignorar os problemas, mas um modo de resinificar os medos, os traumas e os monstros internos que nos assolam. 

Era uma vez é um convite à imaginação. Para dar asas à imaginação. É mais uma maneira de sonhar e manter os pés no chão, mas nunca deixar de sonhar. Sejam bem-vindos à Antologia Era Uma Vez. 


Índice

I - A Menina e o Jardineiro
II - Mundo Perdido
III - Na cabeça do Gigante
IV - O Grande Vilão



Mundo Perdido


Era uma vez uma casa amarela no fim da rua, onde morava a família do mecânico.

Albert era o filho mais novo do casal. Desde pequeno, o menino vivia grudado em um violão, tocando e cantando. Sua alegria era a música. Isso era notável.

Mas o velho mecânico não concordava que seu filho fosse músico. “Isso não tem futuro”, ele berrava. E o pobre Albert ficava triste com a reprovação do pai.

No dia do seu aniversário, Albert ganhou uma caixa de ferramentas, e com isso, havia entendido o que o pai desejava que ele fizesse.

Na calada da noite, o menino pegou seu violão, e com um martelo, quebrou o instrumento para em seguida atear fogo no resto.

Nos anos seguintes, Albert dedicou-se a ajudar seu pai na oficina de carros. O menino cresceu, tornou-se adulto, casou e teve filhos. Mas, continuou sendo mecânico. Aparentemente, estava feliz.

Todos os dias Albert fazia a mesma coisa: acordava às seis da manhã, vestia seu macacão, fazia a refeição, e trabalhava o dia inteiro na oficina. À noite, assistia TV com a família, e as vinte e uma horas dormia.

No dia seguinte, ele acordava às seis da manhã, vestia seu macacão, fazia a refeição, e trabalhava o dia inteiro na oficina. À noite, assistia TV com a família, e as vinte e uma horas dormia.

E assim ele vivia todos os dias, todos os meses, o ano inteiro. Seus hábitos eram conhecidos entre os vizinhos. Ele tinha os mesmos horários de sempre. Os mesmos cumprimentos de sempre. As mesmas piadas de sempre. O mecânico era previsível, e em certo ponto: mecânico.

Até que certo dia um alvoroço tomou conta das ruas. Pessoas corriam apressadas para saber o que estava acontecendo com a cidade. 

Na TV, a repórter comunicava que vários acidentes estavam acontecendo. Carros desgovernados atingiam postes e causavam incêndios. 

Aviões chocavam-se nos ares. Os navios perdiam o rumo e sumiam no oceano. O relato era de que várias pessoas estavam perdidas, sem direção, sem saber para onde ir. 

Elas não sabiam mais como chegar em casa, no trabalho, na escola. Simplesmente não lembravam como voltar de onde tinham saído.

Eles começaram a chamar o evento de: surto da bússola, pois ninguém conseguia dar rumo a nada. E, de repente a TV parou de noticiar. Os rádios não funcionavam. Não tinha mais sinal de celular. Um verdadeiro apocalipse atingiu o planeta, deixando as pessoas desorientadas.

Albert saiu de sua oficina e simplesmente não sabia mais como chegar em casa. À direita? À esquerda? Qual rua? Qual sentido? Ele não sabia como voltar para sua casa. A casa que ele viveu durante toda a vida. Como isso era possível? Pelo menos estava próximo à oficina. Ficaria lá até que um familiar ligasse lhe mostrando o caminho. 

Quando deu meia volta para retornar ao seu lugar de trabalho, percebeu que não sabia em que lugar estava. Que rua é essa? Que casas são essas? Onde estou? Não sei que cidade é essa? Como voltar para a minha oficina?

Ele estava desesperado. Perguntou às pessoas desorientadas onde estavam, mas elas também não sabiam. Um verdadeiro caos surgia diante de seus olhos. 

Casas, lojas e bancos eram saqueados. Mulheres estupradas em becos escuros. Não havia policiamento, não havia ordem, não existia mais direção. Essa era a verdade: todos estavam perdidos.

O celular de Albert tocou, era sua esposa. “Onde você tá?”, ela perguntou desesperada. Ele tentou explicar sua localização:

 “Estou perto de uma torre de telefonia. Deve ser por isso que meu sinal ainda funciona. Vou sentar aqui e te esperar”. 

Ele ficou sentado durante horas, mas a mulher não veio. Um cachorro passava desorientado, e Albert correu para abraça-lo. Ao retornar para o lugar que estava, percebeu que a torre não estava mais ali. 

Mas, ele não havia saído do lugar. Somente alguns passos, não poderiam leva-lo para tão distante. Mas foi exatamente isso que aconteceu. Ao olhar para cima, viu a torre ao longe, muito distante.

Ele não sabia explicar como isso aconteceu, mas sabia que nada mais seria como antes. Todos estavam perdidos.

Albert ocupou uma casa abandonada. Passou alguns dias naquele lugar, até que ao sair do local, perdeu-se novamente. Era comum encontrar pessoas perdidas, juntar-se a elas e perder-se novamente. 

E agora? O que fazer? Como ter uma vida sem saber para onde ir, em momento algum? Como a sociedade poderia prosseguir sem um ponto de partida, e sem uma rota a seguir?

 Ninguém podia reclamar com os políticos, pois não se sabia onde eles ficavam. Ninguém tinha ajuda do exército, pois o exército também se perdera. 

Ninguém podia ajudar ninguém, sem destino, sem mapas, sem sentido. Algo que a humanidade nunca havia passado estava acontecendo agora. Pessoas que não sabiam aonde chegar, e nem onde estavam. Era um verdadeiro fim do mundo.

As pessoas estavam aflitas e desesperadas. Muitas morriam violentadas, com fome, doentes. Onde ficavam os hospitais? Onde ficavam as farmácias?

Se seguissem mapas perdiam-se da mesma forma. Se orientar por bússolas era ineficaz. Seguir o GPS era andar e ir para lugar nenhum.

O senso de direção dentro do cérebro humano estava desligado. Nada, nem ninguém poderiam consertá-lo.

“Temos que aceitar que isso é o fim, e viver perdidos”, pensava Albert.

Mas, certo dia, um homem montado em um cavalo branco, seguido por 22 cavaleiros, gritou pelas ruas que havia encontrado a cura. 

Ele dizia que sabia como dar destino à humanidade. Que podia consertar o mundo novamente, e dar sentido aos homens. 

“Nós andávamos sem rumo, cada um vivendo seus erros e cometendo atrocidades. Estávamos sem lei, sem temor, fazendo o que queríamos. E, precisávamos perder o sentido de direção para cairmos em si, e buscar a ordem. Eu tenho o caminho. Eu sou a verdade. Venham até mim e encontrem o verdadeiro destino”, ele clamava pelas ruas.

Muitos seguiam “Boxo, o proclamador”. Ele dizia que se não o seguissem agora, iriam se perder novamente. Então, muitos com medo de ficarem desgarrados, se juntavam ao Boxo e marchavam com ele.

Sua proposta era chegar à estação de trem da linha sul, onde havia um túnel muito comprido. Ele dizia que os 22 cavaleiros [sacerdotes] que haviam percorrido o túnel, voltaram curados, sabendo que direção seguir. 

Com isso, muitos seguiam Boxo. Colocavam coleiras em seu pescoço, e em fila indiana seguiam o cavalo branco. Esperavam entrar no túnel e sair de lá curados, sabendo o seu destino.

Todavia, no meio do caminho, Boxo e seus seguidores toparam de frente com os oposicionistas. Em uma encruzilhada, um homem montado em um cavalo vermelho, seguido por vinte e dois homens, ordenou que Boxo parasse e soltasse o povo, pois “Harau, o libertador”, viera trazer a verdadeira direção.

Um conflito nascia naquela encruzilhada. De um lado, o proclamador e seus seguidores. Do outro, o libertador e seus fiéis súditos. Para que lado seguir? Para que direção caminhar?

Albert havia posto a coleira do proclamador, mas ficara surpreso ao descobrir que mais de um cavaleiro indicava o caminho.

Harau era valente em seu cavalo vermelho. Seus súditos estavam armados, prontos para a luta. De punhos cerrados e convictos de seu mestre, não poupariam esforços para libertar os cativos de Boxo.

“Liberte os cativos!”, ordenou Harau, com sua voz firme. “Tenho um caminho para eles”. 

Ele prometia o mesmo que Boxo: A cura para a desorientação. Levaria os homens até a maior queda d’água da região. Em um despenhadeiro, incrivelmente alto, todos que se jogassem nas águas, sairiam curados, sabendo que destino seguir. Era uma proposta tentadora.

“O meu caminho é o único caminho”, dizia Boxo. 

Em contrapartida, Harau afirmava: “Você mente. As águas da cachoeira são as únicas que podem libertar. Meus homens pularam e voltaram curados”.

Albert e todos os homens estavam em profundo conflito. “E agora, que caminho seguir? Quem falava a verdade?”, todos se perguntavam.

Perto dali, Albert viu um balão gigante. Tirou a coleira, e querendo livrar-se de toda a confusão, entrou no balão. 

Lá do alto, em transe, pôs a mão na nuca e conseguiu arrancar seu cérebro. Era uma esfera brilhante, cheia de pequenos raios. E a esfera estava presa por um fio, às mãos de Albert. Como um balão de gás, ele podia ver o seu próprio cérebro, e em um lampejo de inspiração, percebeu que podia enxergar seu caminho. 

Mas, algo não estava certo. Ao mesmo tempo em que tinha seu cérebro, havia perdido sua voz. Já não conseguia falar. 

Pensou em colocar a esfera no lugar, mas sentiu que perderia o sentido novamente. Para voltar para casa, precisava do cérebro fora, e de silêncio na voz.

Ao voltar para a encruzilhada em que os cavaleiros disputavam os homens, todos ficaram chocados quando viram Albert segurar seu cérebro como um balão. Alguns perguntavam como fazer, e Albert mostrava a forma de desgrudar o cérebro. 

Quando viu o que estava acontecendo ao redor. Quando viu que todos tiravam seus cérebros, Albert sentiu seu peito arder, e da mesma forma arrancou seu coração para fora de si. 

O seu coração tinha um formato engraçado, e parecia uma casa. Ele pulsava constantemente, e uma luz vermelha vibrava a cada batida. 

Sem o coração, Albert perdera a visão. Ao mesmo tempo em que ganhara novamente o senso de direção. Agora, sem voz e sem visão, ele podia voltar para casa. Havia achado seu caminho. Sabia aonde ir, sendo guiado pelo coração e pela razão.

Os outros, percebendo o que acontecia com Albert, faziam a mesma coisa: tiravam o cérebro e o coração. E, em uma marcha muda e escura, todos voltavam para casa, sabendo o caminho a seguir. As ruas ficaram repletas com balões de cérebros e corações. 

Os que tiravam somente o cérebro continuavam vendo, mas não conseguiam voltar todo o caminho. Mas, os que deslocavam seu cérebro e coração, sabiam todo o percurso, e não conseguiam se perder, ainda que não falassem e avistassem nada à sua frente. 

Com o tempo, todos tiraram os dois órgãos, e já caminhavam para suas casas.

Na verdade, o que acontecia era que os dois órgãos juntos criavam um mapa que misturava razão e sentimento. No fundo, todos sabiam o caminho, o que faltava era conciliar a voz da razão com a emoção, e seguir em frente, voltando para casa.

Quando Boxo e Harau perceberam que os homens encontraram o caminho, começaram a guerrear. O cavaleiro branco empunhou sua espada e matou vários homens de Harau. 

Enquanto isso, o libertador colhia para si vários cérebros e corações. Em um lance de agilidade, Boxo cravou a espada no peito do cavaleiro vermelho e lhe esmagou ao chão.

Sem perca de tempo, o proclamador cavalgando em seu cavalo branco, colheu os cérebros e corações. Com uma lâmina afiada, ele cortava os fios que ligavam os órgãos ao corpo. 

E, como um colecionador egoísta, juntou carretas de cérebros e corações, e levou para sua mansão, depois da linha do trem.

O proclamador e seus 22 súditos escravizaram os homens. Aproveitaram-se que eles não podiam ver e falar. Trancaram todos em prisões e subjugaram a humanidade. 

E como zumbis, dia após dia, os homens eram obrigados a trabalhos forçados. Mal alimentados e enfermos. Um verdadeiro inferno havia se formado. 

Agora que somente Boxo e seus oficiais podiam ver, ele iria dominar o mundo. O próximo passo era construir uma estátua de ouro e fazer com que todos se ajoelhassem e lhe prestassem culto. Ele sentia que era um deus. Um deus proclamador.

Albert fora escolhido por Boxo para trabalhar em sua coleção pessoal. O mecânico acordava às seis da manhã com um balde de água fria, era puxado até uma tigela no chão, e comia sua ração que cheirava a merda.

Logo após, entrava em uma linha de produção, onde uma esteira corria, e em cima dela, vários cérebros e corações passavam. 

O mecânico tinha que limpar todos os corações e mentes que corriam na esteira. Tinha que ser rápido, ainda que não pudesse ver ou falar. 

Vivia em um mundo escuro e sem voz. O que chegava aos seus ouvidos eram os gritos dos capatazes, ordenando que ele fosse mais rápido.

Albert não sabia o que fazer, nem como sair daquela situação. Antes estava sem direção, e agora que havia encontrado seu mapa, não sabia como localizá-lo. O que fazer?

Mas Albert vivia no automático. Acostumado com a rotina, ele percebeu, através do toque, que a batida de cada coração correspondia aos pulsos do seu cérebro. 

Cada pulsar de coração era igual às descargas que seu cérebro correspondente soltava. Ele conseguia saber qual era o par de cada órgão.

Certo dia, prestes a pegar no sono, depois de um longo dia limpando órgãos. Albert foi acordado por um menino sujo. 

“Você tem que me ajudar”, disse o garoto. 

O mecânico assustou-se. “Como ele conseguia falar?”, ele pensou. 

“Todos são mudos e cegos. Como esse menino consegue falar?”. Mas a curiosidade dele logo foi sanada. 

O menino explicou que nunca havia retirado seu cérebro, por isso conseguia falar. Mas, seu coração estava lá, na esteira da coleção do Proclamador.

“Você precisa trazer meu coração de volta”, pediu o garoto. “Só assim podemos sair daqui”.

Albert pôs a mão na cabeça do menino, e sentiu os pulsos elétricos do cérebro. Iria tentar, mas sabia dos riscos. Poderia ser pego e morto. Poderia pegar o coração errado e matar o menino, fazendo um encaixe perigoso. Poderia simplesmente não tentar e aguardar a morte.

Mas ele tentou. No dia seguinte, na esteira de produção. O mecânico limpava os órgãos com uma velocidade reduzida. Ele sabia que estava atrasando a limpeza, mas precisava sentir as batidas do coração.

Ele então lembrou-se dos dias que tocava violão. Lembrou-se do ritmo das músicas. Cada melodia com um ritmo próprio. Assim era o coração. Nenhum era igual, todos tinham um pulsar diferente.

Até que sentiu o coração do menino. Sabia que era aquele. Tinha o mesmo som, a mesma batida. Até lembrava a infância dele.

Precisava esconder aquele coração. Era sua única chance. Mas, quando estava prestes a guardar o coração em seu bolso. Um guarda gritou, pedindo que ele se afastasse. A produção estava suspensa. E, Albert não conseguira levar o coração do garoto.

No dia seguinte, os guardas flagraram o menino falando com Albert. Eles levaram o garoto até Boxo, que mandou prendê-lo nas minas abaixo da terra. “Deixe que ele morra”, ordenou o proclamador.

Enfim, não havia mais o que fazer. A única chance de sair daquele inferno era o menino, que agora estava preso e prestes a morrer.

Albert foi retirado da coleção do ditador, e agora trabalhava na construção de presídios. A única coisa que Boxo queria era prender a humanidade.

“Estão todos condenados. Ninguém escapará da prisão”, Boxo pregava. 

Enquanto que seus cavaleiros andavam armados, e prontos a eliminar qualquer um que contrariasse suas ordens.

Aqueles eram dias sombrios. Ninguém conseguia se expressar. Ninguém conseguia falar. Homens mudos e cegos, sem saber o real motivo de ainda viverem. 

Os poucos que tentavam liberdade eram logo executados. Não se podia fazer nada, apenas obedecer e aguardar a morte.

Certa feita, um capataz gritou, assustando os escravos:

“Quem aqui sabe tocar instrumento musical?”, ele perguntou.“Nosso mestre Boxo deseja ouvir música”. 

Albert escutou aquilo temeroso. “Seria mesmo verdade? Será que o proclamador quer ouvir música?”, ele pensava. 

Mesmo reticente, levantou a mão e candidatou-se. Era o único músico. Diante de vários instrumentos que foram lhe ofertados, escolheu o violão. Arrastaram-no para a sala real, onde Boxo aguardava sentado em seu trono.  

“Queremos ouvir sua música”, disse o porta-voz do proclamador. Sem muito pensar, Albert agarrou o instrumento e dedilhou suas cordas, estavam afinadas. 

Desejou ter sua voz para acompanhar a canção, mas ainda assim, tocou com maestria. Desde a infância não manejava o violão, mas surpreendeu-se por ainda tocar daquela forma.

Enquanto tocava, a melodia inundava o salão, emocionando todos os presentes. Boxo fechava os olhos sorvendo aquela música. 

Os súditos assistiam admirados o talento do escravo.

“Tenho mais uma sugestão, vossa alteza”, disse o porta-voz. “O menino preso nas minas, tem voz e pode cantar para nós. Podemos juntar o homem com o violão, e o menino com a voz, e testemunhar esse momento”.

Boxo avaliou a proposta e logo concordou com o porta-voz. Trouxeram o menino e pediram que cantasse.

Albert tocou, e nos primeiros acordes, as notas da viola juntaram-se à voz do garoto. Um abraço entre voz e violão aconteceu e um milagre surgia. 

Enquanto os dois faziam música, as melodias viajavam pela mansão do proclamador, e despertavam os corações e mentes que ali estavam.

Cada órgão desperto pela canção unia-se ao seu correspondente e viajava em direção ao seu dono. 

Em poucos minutos, homens, mulheres e crianças despertavam. A visão e a voz haviam retornado, e a esperança também. Um alvoroço surgia no meio da mansão. 

No pátio externo, homens lutavam com os soldados do proclamador. Em poucos minutos, os capatazes foram rendidos, e Boxo encurralado.

A música tocada por Albert fora o gatilho para despertar a mente e o coração dos homens. Ele mesmo havia despertado, e recebera novamente os seus órgãos.

Como num passe de mágica, todos sabiam qual o caminho a seguir. Voltavam pra casa e reuniam a família, comemoravam e celebravam a vida e a liberdade.

Albert encontrou sua família. Beijou seus filhos com amor. Abraçou sua esposa com saudade. E, voltou para sua oficina.

Quando tudo se normalizou, Albert vendeu todas as suas ferramentas. Reformou a oficina, transformando o lugar em uma escola de música. 

Como um mestre experiente, ele dedicou-se à música. Ganhou notoriedade por ser considerado o verdadeiro libertador, pois havia mostrado que no homem havia o caminho de volta pra casa.

Os dias que se seguiram foram verdadeiras surpresas. As horas de Albert eram repletas de criatividade e espontaneidade. Nada era tedioso, maçante ou chato.

O violinista vivia em completa alegria, cantando e tocando com seus filhos e vizinhos. Enquanto que Boxo estava preso, vivendo seus dias, encarcerado. 

A única coisa que o animava eram as músicas de Albert. Músicas que lhe alegravam e lhe dava esperança.

FIM

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