A trama vive numa verdadeira corda bamba
Boa tarde caros leitores, duas semanas se passaram, e retornamos em ritmo de festa. Somos nós do mundinho virtual aos poucos conquistando o mundo real. A matéria do “Teleséries” feita por Juliana Baptista compensa nossos incansáveis esforços, e somente temos que agradecer este apoio importante e significativo. Nunca senti a Cris tão empolgante e reluzente como o sol nosso de cada dia, creio eu que todos nós nos sentimos assim. Então, vamos em frente que atrás vem gente. "Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a MORTE os separe?”. Com uma noiva morta? Nem morto. Risos. Esta é a proposta de Broken, terceiro episódio da série Afterlife. Confesso que a trama de Torquato VIVE numa verdadeira corda bamba, varia como a temperatura climática daqui de São Paulo, esfria e esquenta, declina do alto ao baixo, do bom ao péssimo.Na verdade isso chega até ser bom, constata que quem escreve é uma pessoa realmente dotada de sentimentos. Eu falo respeito à estória, não é tão ruim como a do segundo episódio, porém, nem chega ao pé do piloto. Um escritor-bipolar? Contudo, vamos ser sinceros, Torquato já compreendeu o sinônimo de seqüência, e que “ela” é um conceito muito importante para escrever o roteiro. Enfatizo isto, porque há seqüências realmente boas, e estão espalhadas sabiamente por todo o episódio e moldura organizacionalmente a estrutura da estória. Seria tolice não comparar essas seqüências com os roteiros contemporâneos, como os feitos pelos roteiristas “modernos”, como Darren Aronofsky, Quentin Tarantino, Charlie Kaufman, Garret Lerner, Russel Friend, Woody Allen, e os irmãos Coen (Joel e Ethan Coen). Gente, eu não estou exagerando com relação ao que falo! Basta procurar por roteiros de filmes americanos traduzidos em formas de livros, e certamente entenderão do que eu estou dizendo.
Assim como na série Breakeven, o roteiro de Torquato possui descrições dificultosas como do tipo: “Brenda se levanta, pega seu casaco que estava no encosto na cadeira e se veste com ele”. Quando simplesmente poderia ser: “Brenda se levanta, pega seu casaco que estava no encosto da cadeira e o veste”. Mas, nada que atrapalhe a nossa leitura. Não obstante da cena em que Brenda e Samantha conversam no Club, não ser feliz, e muito menos inesperado. Todavia, a relação das duas continua muito forte e pode melhorar. Sabemos que a função de Samantha na trama é de mentora, e que ensinar é uma via de mão dupla. E qualquer pessoa no mundo que já tenha ensinando alguma vez na vida está roxa de saber que nós aprendemos tanto com os discípulos quanto ensinamos a eles. Porém, a função de Samantha é muito significativa, porque ao invés dela motivar Brenda, como um verdadeiro mentor o faria, a amiga transforma-se num obstáculo no caminho da personagem.
O que me deixou com a pulga atrás da orelha, foi localização de ambas no desenrolar da cena, e eu não consegui ver onde elas estavam no Club. Perto do bar? Na entrada? Num corredor? É importante detalhar o cenário o máximo possível. Lembre-se de que o roteiro é um substantivo, uma coisa VIVA e pulsante, e não os MORTOS como propõem a trama da série. Risos. Como já tinha alertado Felipe Figueira, autor de Here I Am, numa das críticas, em que o escritor fazia uso incorreto do termo (V.O) ao invés de empregar o (O.S). Torquato faz completamente ao contrário de Figueira ao utilizar o (O.S), quando deveria empregar o (V.O). Torno a dizer o recurso do “(O.S) off screen” – de onde vem o termo “off” – refere-se a um personagem em cena, mas, fora da tela no momento. Enquanto o que deveria ser usado nos pensamentos de Brenda seria o “(V.O) voice over” que acontece quando uma personagem ou narrador que não está em cena fala por um rádio, telefone, narração, ou pensamento.
Neste episódio Brenda volta mais VIVA do que nunca, o que fortifica a personagem e favorece sua profissão de detetive. A iniciativa dramática de um herói ou heroína, numa série ou filme é dar aos leitores ou espectadores uma espécie de janela para a estória. Ou seja, cada leitor que se deleita com a saga da escrita, é levado a se identificar com este herói, ou até mesmo se fundir com ele numa simbiose profunda e enxergar o mundo pelos olhos dele. E Torquato atingiu este feito ao incorporar e combinar qualidades ímpares, que vão desde emoções e características universais e únicas, que acabam dando vida a sua personagem e resultando numa significativa transformação. Todas histórias convidam, nós leitores ou espectadores a investir uma parcela de nossa identidade pessoal na personagem. Quem de nós aqui já não experimentou uma vez ou outra na vida: sentimentos de raiva, de pura vingança, desejo, competição, medo, cinismo, desespero?
Conclusão, as personagens têm que ser pessoas tridimensionalizadas, e não máscaras de ferro, sem traços e previsíveis. Ninguém quer ler ou ver histórias, nas quais, por mais que sejam fictícias, aonde não há sequer um pingo de sentimentos e emoções que contrastem com os dos seres humanos. Brenda coloca as mangas de fora e mostra muita atitude numa cena ao proferir: “Eu tenho amigos que você nem duvida que existam. E eles complicariam sua vida, de verdade”. A recepcionista tropeça, e Brenda agradece Megan verbalmente, sugerindo-nos que foi o espírito de Megan que fizesse a moça tropeçar. Não vou cansar de repetir que as ações e diálogos são meios que revelam nossas personagens. A briga entre Brenda e Morrison foi muito forte, e sem dúvidas favorece a trama. Apesar das atitudes do autor fazer com que a personagem fosse para cama com seu ex-chefe ao troco de uma informação, ser das mais esdrúxulas e impensadas que já li na minha vida.
Se Brenda realmente fosse uma pervertida como a detetive de comportamento autodestrutivo Grace Hanadarko da ótima e precocemente cancelada série “Saving Grace”, que além de cínica, bêbada, e transa com (quase) qualquer um que aparece. Até faria sentindo tal feita, e que fosse assim desde o início. No entanto, não condiz e muito menos combina com a personagem que nos foi apresentada. Acho importante Morrison torna-se um inimigo de peso ou até mesmo uma barreira na vida de Brenda, isto é, a função de um inimigo numa trama é desafiar o herói ao máximo possível, criando conflitos e fazendo que Brenda mostre o que tem de pior, ou melhor, quando a coloca numa situação que ameaça sua própria vida. O mesmo se dá à personagem Violet vivida por Emma Stone de (The Amazing Spider-Man), futuramente pode se tornar uma ótima adversária, e tomar atitudes como perseguir Brenda, ou até mesmo chamá-la de louca se acaso vê-la conversando sozinha, quer dizer com os espíritos..
Eu não sei quem é pior, se é Kevin ou Morrison. Como diria o brincalhão em Supernatural para Sam: “Não vai sair coisa boa daí não, Sam!” O Kevin ao meu ver não passa de um camaleão, digo isso com relação às atitudes dele com Brenda, é difícil identificar seu arquétipo de personagem, trata-se de uma pessoa instável, pois, sua aparência e características mudam de uma hora para outra. É muito comum em tramas o interesse amoroso da personagem principal, ou parceiro romântico, possuir estas qualidades. Quem de nós não experienciamos relações conturbadas, nas quais nossos parceiros e parceiras muitas vezes são dúbios, e possuem duas caras? E esse joguete foi um tiro certeiro de Torquato, e tem que se aproveitado ao longo da temporada. A despeito de Brenda ter mais pulso nesse episódio, e cair de cara nas investigações, e sinceramente era que todos nós leitores esperavam, mesmo assim Torquato não consegue ser feliz na estória da noiva morta, por conseguinte, nada é revelado e não acrescenta nada a trama. Porém, admito que foi muito engenhoso e uma sacada genial à parte da aliança que Kevin comprou na loja de penhor.
Contudo, não se pode dizer o mesmo da subtrama da recém falecida Cecilia, que fora desperdiçada no segundo episódio, e que é usada com genialidade neste terceiro. Em meio às investigações Brenda descobre um guarda-roupa de fundo falso, que esconde um verdadeiro segredo, creio eu que este artifício será usado como uma das mitologias do programa. E não acaba por aí, mais mistérios vêm à tona, quando a irmã de Cecília diz: ”Não vou revelar seus segredos”. De quem ela falava? Da Cecilia? Que segredo? Vamos descobrir acompanhado a temporada. Assim como Megan, a noiva cadáver profere palavras doentias: “COLOQUEM A MARCHA NUPCIAL, ENTREM AS DAMAS DE HONRA. AGORA, MATEM A NOIVA, COLOQUEM-NA NUM ESPETO. FRITEM SUAS COSTELAS”. Ai que saudade da Megan! (a minha personagem preferida). Diga-se de passagem, a atriz Jayma Mays (Glee) que interpreta a personagem Cecilia, na minha opinião é uma atriz muito superficial e que compõem um sorriso plástico, e péssima em todos os aspectos.
Torquato mostra que não tem pressa em escrever a trama, e que episódio grande não cansa. Eu sinceramente sempre fui um adepto dos episódios grandes, pois, quando se trata de escrita de roteiro, não deve haver limites, de quantas páginas escrever, ou quantas cenas devem compor uma página. Vamos dar asas a nossa imaginação. Enfim, aprendemos que o ponto central numa estória é o crescimento da personagem, ao decorrer da trama conquistam metas, acarretam conhecimentos e muita sabedoria. E torcemos para que Torquato cresça tanto na escrita como sua personagem evoluiu na trama. Jogando no ventilador de 0 a 10, o episódio recebe 9 outra vez, por não apresentar uma estória instigante a trama da noiva macabra.
Coluna “Jogando no Ventilador”