Antologia "Era uma Vez..." | Conto IV: O Grande Vilão - Parte 1

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Conto IV: O Grande Vilão - Parte I



Sobre a obra: A antologia "Era Uma Vez" nasceu de um desejo em contar histórias simples, mas que pudessem ser deslumbrantes. 

Onde as possibilidades fossem infinitas e as aventuras fantásticas. Um anseio do autor em viajar e fugir um pouco da triste realidade que se vive no país. 

Essas histórias não são meios de escape ou uma forma de ignorar os problemas, mas um modo de resinificar os medos, os traumas e os monstros internos que nos assolam. 

Era uma vez é um convite à imaginação. Para dar asas à imaginação. É mais uma maneira de sonhar e manter os pés no chão, mas nunca deixar de sonhar. Sejam bem-vindos à Antologia Era Uma Vez. 


Índice

III - Na cabeça do Gigante I e II
IV - O Grande Vilão



O Grande Vilão - Parte I


Era uma vez um velho cadeirante, que vivia em uma mansão luxuosa, no alto da colina.

Sigmund Vilão era um magnata do petróleo. Ranzinza, cruel e egoísta, vivia seus dias lendo e fazendo aplicações financeiras.

Sua maior ambição: tornar-se uma memória eterna na mente das pessoas. Não queria morrer e ser esquecido.

Sem esposa ou filhos, sua única companhia era um japonês fiel que administrava seus negócios.

Tudo mudou, quando em uma tarde ociosa, Sir Vilão pegou-se revirando a biblioteca, e encontrou livros antigos, calendários maias e hieróglifos raros. Mas, um livreto específico, chamou-lhe a atenção. Uma antologia de contos chamada Era uma Vez. Percorreu as páginas envelhecidas e encantou-se com as figuras, aproximou-se da janela e leu todas as histórias. Ficou admirado.

A capa anunciava uma série de quatro contos, mas ali só tinham três. Ficou curioso para saber qual era o último. Ligou para a editora e falou com uma mulher chamada Cristina, soube que não existia um quarto conto, o autor nunca fizera. Frustrou-se. Pediu o contato do escritor e ligou para ele.

Hugo Martins, autor da série, atendeu ao telefone mal humorado. Desempregado, e vivendo um bloqueio criativo, não queria conversar sobre um projeto fracassado. “Publicamos dez exemplares, nada demais. Onde encontrou isso?”, ele perguntou.

“Em minha biblioteca”, disse Vilão.

“Esqueça o livro, ele não é bom”.

“Mas eu adorei as histórias”, Sir Vilão disse para uma voz muda do outro lado da linha. Hugo havia desligado.
Naquela noite, não conseguiu pregar os olhos, pensando nas aventuras que lera. Desejou vive-las também.

Ao amanhecer, pediu que japonês investigasse as fontes de inspiração do autor. Queria saber tudo sobre Hugo e suas criações. Enquanto esperava, continuou lendo e relendo os contos. Apaixonado, deslumbrado.

Encantou-se com o romance de Selena e o trágico fim de César Augusto. Surpreendeu-se com o mundo perdido de Albert e como ele vencera Boxo, o proclamador. E, não conteve a emoção ao embarcar nas aventuras de Zule e seu gigante Tapuã.

Em todas as histórias, percebeu que os vilões eram vencidos no final. Pensou que seria divertido ler sobre a jornada do vilão, e como ele triunfara. Mas, esse conto não existia, ainda não fora escrito. “Seria errado desejar ver o mal triunfando no fim?”.

Em busca das respostas, não conteve a ansiedade quando Japonês retornou trazendo as notícias.

Soube que todas as histórias eram verídicas, e que realmente Selena, Albert e Zule existiam. Inclusive Boxo continuava preso e Tapuã dormindo.

Tremeu com a novidade. Há tempos não sentia tamanha euforia. Precisava fazer algo com a ideia genial que brotara em sua mente. Iria entrar na história através da antologia.

“Todos esses heróis estão vivos e felizes, enquanto que os vilões estão presos ou dormindo. E eu, próximo da morte, preciso fazer parte desse universo”, pensava.

Com uma ideia fixa na cabeça, decidiu que se tornaria o quarto conto da série. E sua história, seria a melhor de todas, pois ele não faria o mocinho, mas sim o vilão, e não morreria no fim, isso nunca.

No dia seguinte, ordenou que Japonês trouxesse à mansão o autor Hugo Martins, oferecendo-lhe emprego. Aguardou ansioso, enquanto ensaiava seus atos de crueldade.

Infelizmente, estava condenado à cadeira de rodas, e não poderia lutar e esganar os mocinhos, mesmo assim, tinha poder e dinheiro, para executar suas vilanias.

Hugo Martins relutou em aceitar o convite de Sigmund Vilão. Mas, como estava sem grana e louco pra trabalhar, decidiu arriscar e descobrir os projetos do velho.

Quando chegou à mansão, foi recepcionado com um banquete regado a vinho branco e caviar. Ficou deslumbrado com o tamanho da mansão e com a opulência que o magnata ostentava.

Encontrou-se com Sir Vilão na biblioteca, e ficara compadecido pela situação do velho. “O que será que ele quer?”, pensava.

O anfitrião fumava um charuto quando o autor apareceu. Sereno, pediu que ele sentasse em uma das poltronas. Precisava convencê-lo a lhe incluir nas histórias.

“Escreva o quarto conto”, pediu.

“Não tenho mais histórias para contar”, Hugo respondeu.

“Conte a minha história”.

“E qual é a sua história?”, o autor perguntou, cruzando os braços.

Hugo realmente queria saber qual era essa história. Estava curioso para descobrir porque um velho ricaço contaria algo. Será que existia alguma grande aventura?

“A minha história é a história do mal. Irei matar os mocinhos. E no fim você irá escrever como eles foram derrotados e como eu os venci”, disse Sigmund.

“Essa é uma péssima história. Será a pior de todas”, Hugo sorriu, encarando o velho.

Vilão formou uma interrogação na testa; queria saber o porquê de sua história ser ruim?

“Você tem poder, tem riquezas e mata todos os bonzinhos. E depois? O que acontece? Você triunfa sobre o bem e domina todos? Fica sentado em um trono contemplando o quão horrível tornou-se? É isso? Como essa história pode ser boa?”.

“Não sei! Diga-me você, que é o escritor!”, exclamou o Vilão, percorrendo a sala.

“Se eu soubesse as respostas, já teria escrito o último conto”.

“Você deve saber como criar boas histórias. Pense em algo e eu irei fazer”, ordenou Sigmund.

“Uma boa história é repleta de conflitos. Existe aprendizado, romance, humor e transformação. Mas, isso não é fácil de fazer”, refletiu.

Sigmund estava inconformado. Só precisava querer e em poucos minutos Selena, Albert e Zule estariam mortos. Depois, Hugo escreveria seu triunfo e o conto estava acabado. Mas, realmente qual seria a graça?

“Eles precisam lutar”, disse Sigmund para o autor.

“Sim, mas antes ele devem estar preparados”, completou Hugo.

“E, como isso será feito?”

“Envie-lhes cartas. Avise-os de que estão em perigo e que precisam lutar por suas vidas. Eles encontrarão uma forma de se prepararem”, aconselhou Sigmund.

Hugo teria que concordar com Vilão, era uma boa ideia. Dessa forma, escreveu cartas para Selena, Albert e Zule e pediu que Japonês levasse até aos correios. Naquela mesma noite, Vilão ficou pensativo, olhando os jardins através da janela. Hugo tentou se aproximar e conversar, mas ele estava fechado em si.

Dois seguranças conversaram com Vilão e em seguida tomaram Hugo à força e lhe algemaram. “O que você está fazendo?”, ele perguntou.

“Mudei de ideia. Não irei preparar ninguém para a luta, eles morrerão impiedosamente, sem batalha final”, disse Sigmund, com uma névoa negra em sua face.

“Você é um covarde!”, Hugo bradou.

Os seguranças jogaram o autor em um calabouço, no subterrâneo da mansão. Logo em seguida, informaram a toda equipe, a missão de matar Selena, Albert e Zule. Vinte homens armados partiram para a mansão no alto do monte. A primeira vítima seria Selena, a ruiva.


Selena

Na mansão no alto do monte, Selena morava com o marido e o filho recém-nascido. Naquela manhã, acordou cedo e amamentou a criança. Seu marido abraçou-lhe por trás e observou o bebê no colo da mãe. “Vocês são tudo pra mim”, disse apaixonado.

O casal observava o nascer do sol através da janela e planejavam o futuro. Mal sabiam que uma ameaça era chegada.

No meio do dia, um carro preto estacionou diante do portão de ferro. Carlos, o marido de Selena, foi atender. Enquanto ela observava a cena da sala de estar.

Assustou-se quando viu os homens pularem do carro e atirarem em seu esposo. Seu coração correu em disparada, um tremor percorreu seu corpo, “aquilo não estava acontecendo”, pensou. Tomou o filho nos braços e em disparada correu para os fundos da mansão, onde ficava o jardim.

Os homens derrubaram a porta, invadindo a casa. Apontaram armas para todos os cômodos, procurando a mulher como se caçassem um bicho da mata. “Apareça!”, gritavam como leões ferozes. Foram aos fundos da mansão e se aproximaram do jardim, “não havia sinais dela, onde teria ido?”, perguntavam entre si. Desistiram depois de muito buscarem. Deixaram a mansão.

No jardim, quando tudo se acalmou, uma rosa brilhou e se transformou em mulher. Selena segurando seu filho no colo; chorava a perda do marido. Pelo menos havia escapado com vida para cuidar da criança, mas não entendia o motivo de tamanha brutalidade. “O que aqueles homens queriam?”, pensava.

Foi até o corpo do amado e ajoelhou ao seu lado, lamentou. Em um braço segurava o nenê, no outro, a cabeça do marido sem vida. Sentiu uma lança de pesar penetrar em seu coração.


Albert

A escola de música borbulhava de alunos. Albert passava os dias correndo entre as classes e a coordenação, aquilo era tudo pra ele. Seus filhos lhe ajudavam dando aula, e sua esposa cuidava da parte artística, estúdio e venda de produtos. Tudo permanecia na mais perfeita paz, até aquela manhã de sexta-feira.

Os homens de Sigmund Vilão estacionaram diante da escola. Mal-encarados, desceram armados e invadiram o lugar. Pelas câmeras, Albert percebeu a ameaça, e tirou do armário a sua arma, o violão.

O músico não esperou que os homens lhe procurassem, e foi logo se apresentando. “Eu sou Albert, quem são vocês?”. 

Apontaram as armas para ele e lhe ameaçaram de morte. Mas, Albert dedilhou as cordas da viola e algo aconteceu. Os homens ficaram petrificados, só mexiam as pálpebras. Mas uma acorde e eles caíram sem reação.

Chamou a polícia e levaram os homens esquisitos. Agora, buscava saber quem eles eram e por que queriam lhe matar? Não sabia que tinha inimigos, ficou curioso para entender o que acontecera ali.

Enquanto os homens de Vilão se planejavam para executar Zule; na mansão, Hugo permanecia no sótão, encarcerado, preocupado e sem ter notícias nenhuma do mundo externo.

Mas, certo dia, Sigmund apareceu por lá. Vindo das sombras, o velho arrastava sua cadeira, trazendo consigo a imponência que tem os homens maus. Ele encarava o autor, tentando iniciar um diálogo.

“Trouxe-lhe um presente”, disse o Vilão, mostrando uma máquina de escrever em seu colo.

Hugo permanecia em silêncio, ouvindo o som de uma brisa entrar pela janela.

“Você precisa começar a escrever”, disse Sigmund.

“Não! Chega de mortes. Não vou escrever nada!”, gritou, agarrando as barras da cela.

“Você não tem escolha”.

“Eu sempre tive, e sempre terei. Essa não é a história que quero escrever”.

“Qual história então? Diga-me, qual a minha história?”, perguntou Vilão, quase numa súplica.

“Você não é um personagem atraente. É velho, aleijado, egoísta e solitário. O que você tem a acrescentar ao mundo?”.

Os olhos de Sigmund baixaram em reflexão. Tremeu os dedos no braço da cadeira e em seguida apoiou o queixo na mão direita. “Que história gostaria de contar, então?”, ele perguntou, realmente interessado.

“Uma história sem mortes!”.

“Mas as suas histórias têm mortes”, retorquiu o Vilão.

“São mortes inevitáveis, causadas pelos antagonistas”.

“E, se as mortes não forem causadas pelos antagonistas, isso faria a diferença?”

“Não, Sigmund, não há diferença. Nas minhas histórias não haverá mais mortes”, disse o autor, determinado.

Enquanto isso, na delegacia de polícia, cinco homens eram investigados por tentativa de homicídio do Sr. Albert. No depoimento que deram, os seguranças confirmaram o nome do mandante.

“Quem mandou executar as mortes, foi o Senhor Zule Inteiro”, diziam os homens.

“Peguem o Zule”, ordenou o delegado responsável.


Zule Inteiro

O carteiro deixou o envelope na caixa do correio e continuou seu trabalho indo para a casa vizinha. Zule acordou cedo e verificou a correspondência. Abriu o envelope e assustou-se com o que viu. Eram fotos de Selena e Albert, seus endereços, dados sigilosos, documentos entre outras coisas.

“Que merda é essa?”, Zule perguntou-se.

Ainda segurando a correspondência, Zule observou quando um carro preto estacionou diante da casa, e um cadeirante desembarcou; era um senhor de feição endurecida, olhos focados e ar maquiavélico.

“Elas chegaram em bom estado?”, perguntou, Sigmund Vilão à Zule, apontando para o envelope.

“Sim, foi o senhor quem as enviou?”, perguntou.

“Sim, fui eu. A polícia irá chegar em poucos instantes. Irão te interrogar sobre as tentativas de assassinato de Albert e Selena, você os conhece?”.

“Eu... não sei o que você quer dizer? Por que a polícia vai me interrogar? E, eu sei quem são Albert e Selena. Estamos na Antologia Era Uma Vez”, disse Zule, com dúvidas no tom de voz.

“Quero que você, seja o vilão, do último conto que o Hugo Martins está escrevendo”, confessou Sigmund.

“Eu não sou vilão. E, essa história toda soa muito estranha”.

“Você tem cinco minutos para aceitar ser o vilão, ou não. Se não aceitar, irá morrer. Albert e Selena irão te matar”.

“Eles não fariam isso. São boas pessoas. E, eu não sou um vilão. Chega dessa conversa louca, tenho que ir”, disse Zule, sem antes escutar a sirene da viatura se aproximando.

“Você aceita, ou não?”, Vilão perguntou pela última vez.

“Claro que não!”.

Ao dar as costas para Vilão, Zule sentiu uma fisgada no pescoço, e ao por a mão no local, percebeu um dardo preso em sua pele. Uma tontura lhe enfraqueceu as pernas. Os braços ficaram dormentes. Caiu sem forças no gramado.

Logo em seguida, Vilão aguardou no carro, enquanto seu segurança carregava o corpo de Zule. Pelo retrovisor, ele observou o garoto dormindo no banco de trás. Seu plano estava dando certo.

Algumas horas depois, Zule acordou com o chacoalhar do carro. Tudo girava ao redor, e o pão com café que tomara de manhã estava prestes a ser vomitado. Seu corpo parecia que fora moído e sugado; não estava bem. Percebeu Sigmund Vilão sentado no banco do carona. Ele tinha a cabeça erguida como um pavão real e as peles do pescoço moles como geleia de morango.

“O que você quer afinal?”, Zule perguntou, com a voz rouca e falha.

“Quero ser o próximo conto da antologia ‘Era uma vez’. Para isso, irei matar você, Selena e Albert, pois quero ser o vilão da história. É dessa forma que deixarei meu legado no mundo”, respondeu Vilão, com um hálito de hortelã.

“É um absurdo! Você irá me matar e matar os outros, essa não é uma boa história. Você nem tem uma motivação real para fazer isso! Você sabe pelo menos por que quer nos matar? Como isso te torna um vilão convincente? Nas boas histórias, os vilões querem vingar-se de alguém, ou conquistar o mesmo objetivo que o herói, e para que isso aconteça, eles pisam em tudo e em todos. Mas você? Fala sério, não tem uma motivação real. Isso soa patético e artificial. Existem outras maneiras de tornar-se um legado, e matar, definitivamente, não é a melhor maneira”, ele disse de forma relaxada e convincente.

Vilão coçou a cabeça parecendo incomodado com aquele argumento, de certa forma fazia sentido; matar todos e tornar-se o grande vilão não era uma grande jogada, mas era uma jogada, ele tinha que assumir.

“Posso propor a seguinte reflexão: que tal pensar nas suas verdadeiras aspirações? Você é rico? Você tem instrução? Tem família? Sonhos? O que você ainda não conquistou, mas gostaria de conquistar? Já construiu um grande monumento? Escreveu um livro? Do que se arrepende?”, Zule pergunta, transmitindo toda a confiança de um terapeuta.

“Tudo o que eu fiz com a minha fortuna, não foi capaz de trazer o meu amor de volta. Eu queria ter meus vinte anos novamente, e encontrar meu verdadeiro amor”, ele confessa, parecendo realmente refletir nas ideias de Zule.

“Seu legado não é de destruição, mas sim de redenção! Você pode aceitar quem você é, o que você construiu, e as decisões que tomou para realmente encontrar a paz. Quem sabe não consiga encontrar seu grande amor na terceira idade?”

“Você é o contador de histórias não é? Tem um grande poder de persuasão em suas palavras. Isso é perigoso sabia? Você pode fazer besteiras com as palavras!”, responde Sigmund, totalmente inclinado para Zule.

“Isso quer dizer que você vai pensar no assunto?”

Antes que Vilão pudesse responder, os dois se assustaram quando o carro freou sacudindo-os.

“Onde estamos?”, Zule perguntou, com o rosto colado na janela tentando ver o exterior.

“Na minha mansão”.

Os dois caminharam até o saguão de entrada, foram à sala, e sentaram um de frente para o outro. Sigmund definitivamente estava pensativo. Mãos apertando os lábios, como se as ideias pudessem escapar pela boca.

“Não posso matá-los”, concluiu Vilão. “Seria uma péssima história”.

“Sim! Você deve encontrar a redenção!”.

“Mas também não posso continuar sem reparar os meus erros”, ele disse, para em seguida ordenar que Japonês libertasse o autor Hugo Martins.

Zule deu um salto, quando Hugo se aproximou ainda algemado. O próprio Sigmund destravou as algemas que prendiam o autor.

O Vilão pediu desculpas a Hugo e a Zule, disse que estava velho e imprudente. Não queria mais viver de forma impune, como sempre fizera, antes precisava se responsabilizar por seus erros e reparar os danos causados a outros.

“Com isso em mente, eu gostaria de indenizar todos vocês que foram envolvidos nas minhas loucuras, e me entregar às autoridades”, disse Sigmund, tremendo e derramando uma lágrima. “Por toda minha vida, eu esperei que alguém me dissesse o que não fazer, ou que eu estava errado, mas elas só diziam o quão rico e próspero eu era. Mas, com vocês foi diferente, eu pude abrir os olhos e perceber que sou um velho precisando de correção, por isso quero acabar com isso”.

“O que o senhor propõe para corrigir seus erros?”, perguntou Japonês.

“Prepare declarações indenizatórias. Vou pagar os danos que causei a todos vocês. Quero pagar em dinheiro os meus deslizes”, propôs, Sigmund.

“Você também nos deve desculpas!”, disse Zule.

“Sim, chamem as autoridades, além de Selena e Albert aqui. Vou me desculpar pessoalmente por tudo”, concordou Vilão.   

Zule conseguiu falar com Selena e Albert; os dois estavam na delegacia denunciando os ataques que sofreram. Ele pediu que viessem à mansão de Sigmund com os policiais, explicou que Vilão tinha desistido de matá-los, queria indenizá-los e pedir desculpas.

Os dois ficaram desconfiados da mudança do Vilão, mas decidiram junto com a polícia ir à mansão do magnata e testemunhar a prisão.

Um verdadeiro batalhão foi convocado para prender Sigmund Vilão. Tropas do exército estavam a postos, helicópteros foram acionados, carros blindados e armamento pesado, ele que não tentasse nenhuma besteira.

No interior da mansão, Japonês chorava sem acreditar que o patrão seria preso. Pelo menos suas filhas teriam a faculdade paga e uma parte da herança no testamento do magnata. Mas, o desconsolo era sem igual, pois iria perder seu chefinho.

A polícia cercou a mansão como formigas cercam o melaço caído no chão. Dois helicópteros sobrevoavam o lugar vigiando dos céus a operação especial. Outra equipe de elite entraram na casa acompanhando o delegado e as duas vítimas.

Apontando a arma para Vilão, o delegado mandou algemá-lo. Sigmund baixou a cabeça como se estivesse prestes a derramar lágrimas, mas nada aconteceu; somente seu olhar vazio permaneceu ainda mais insignificante.

Zule abraçou Selena e Albert. Era a primeira vez que se encontravam pessoalmente. Hugo se aproximou do delegado e disse que eles precisavam assinar as declarações indenizatórias e que Sigmund queria se desculpar. O delegado concordou prontamente com tudo, antes de levar Vilão em custódia.

“É o fim Sigmund! Sei que não é o fim perfeito, mas depois de tudo que refletimos e da conclusão que chegamos, é o fim adequado. Todos saem transformados dessa experiência. Agora... gostaríamos de ouvir as suas sinceras desculpas”, disse Hugo, mais formal que de costume.

Selena ainda carregando seu bebê, sentia raiva ao olhar para Vilão. Por causa das loucuras dele, ela havia perdido seu marido. Sua vida nunca mais seria a mesma, ainda que ele pedisse perdão mil vezes.

Percebendo todo esse sentimento de fim que permeava o ambiente, Sigmund sorriu para todos e disse: “Vocês são burros”.

Após isso, um tremor abateu a sala. O lustre balançou e caiu, o teto rachou, e os quadros antes pendurados, soltaram-se todos. Um som de horror ouviu-se lá fora. Som de tiros, e gritos de terror. Uma verdadeira guerra acontecia no pátio externo. Todos correram para as janelas para ver o que ocorria ali.

No pátio externo, um gigante derrubava os helicópteros como se matasse mosquitos no ar. Com suas mãos, afastava as viaturas e os policiais, arremessando-os para longe. Pisando em qualquer ser humano que estivesse ao redor, Tapuã dizimou em poucos minutos toda a tropa que cercava a mansão. O medo paralisou todos que testemunhavam o massacre.



E agora? O que será de Selena, Albert e Zule? Descubra na última parte que será exibida na próxima sexta às 20hs, aqui no Blog da Zih!

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