Coisas da Vida | Roteiro derrapa, mas enredo segura

Cristina Ravela
4

A primeira vez que ouvi falar no sitcom Coisas da Vida, não curti muito não; Talvez por eu não gostar de tramas pós-adolescentes, cujo foco central é mostrar o dia a dia de quem estuda, trabalha, namora, dá toco, e etc...
Mas aproveitando a reestreia na WebTV,  resolvi finalmente ler (estou em falta com algumas tipo Foley Boys, The Circus e Os Herdeiros, paciência) e, a pedido dos autores, expressar a minha humilde opnião.



Dog (Simon Bird - facilmente seu personagem poderia ser chamado de pardal, canário, bem-te-vi, e na pior das hipóteses, piu-piu...) é um escritor de livros infantis, insensível, egoísta, que acabou causando um acidente com o seu fã nº1 e fugiu para não prestar socorro. Tudo por conta de um pânico por sangue. Tem que aturar seu vizinho, Pato (Martin Starr - o destaque  do sitcom), um cara que vive chapado, abusa da paciência de Dog e pratica ilegalidades, como gato e venda de drogas. Nesse reino animal, sobram apenas os amigos Leo (Matt Bush) e Jú (Stacey Farber).

O episódio abordou, de cara, dois conflitos propostos pelo autor: Romance frustrado e término de namoro.
Apesar dos diálogos extensos em alguns momentos, o texto é light, engraçado e nenhum personagem principal ficou esquecido.

Mas se o ponto forte do sitcom são os diálogos que fazem jus a intenção dos autores, o ponto fraco está na roteirização que pode cansar o leitor por algumas falhas que, somadas a um péssimo enredo acabariam por detonar a obra inteira.
Ainda bem que o enredo é interessante, tem lá seu charme.  Mesmo assim, lembre-se que no mundo virtual o roteiro influencia em toda a estória, ao contrário da TV onde alguns detalhes passam despercebidos.

E que detalhes seriam esses, Boys and girls? Simples, caros Watsons, a localização e temporalidade (exemplo: Cafeteria [int. / tarde]) por exemplo; Esses são muito importantes num roteiro, e os autores Douglas Souza e Víctor Laurant fizeram diferente para chegar no mesmo ponto; Usaram os dois termos durante a narrativa, o que poderia deixar o leitor perdido quando quisesse retornar à cena anterior para reler alguma cena.

Além disso, quando você indica a localização, não há necessidade de ressaltá-la, como no exemplo retirado do Piloto:

----------------- Corta pra dentro do apartamento.

Dentro do apartamento, Dog entra, acende a luz, vemos uma sala de estar espaçosa, mas não muito grande, bem simples. Ao entrar ele coloca as chaves na mesinha ao lado e fecha a porta.

------------------

Decididamente, Dog entrou bonito nesse apê, hen Betty. Se a própria decupagem indica ao leitor que a câmera está dentro do apê, não há porque reinterá-lo na narrativa, meu amor. Menos, bem menos.
 
Sem contar as rubricas - Aquelas em que a gente indica a reação dos personagens, seus sentimentos e ações - que estavam mal posicionadas. Antes dos diálogos é preciso que o leitor saiba de que maneira o personagem está, sua expressão, o que está fazendo, para não haver um furo de leitura - Aquele momento em que você tem que reler o diálogo e acaba quebrando o clima.
Em alguns momentos, me deparei com cenas dignas de gibis: Pura onomatopéia, minha gente! Era som de gente pigarreando, criança caindo, gritos, risos, choros...Sinceramente? O autor não precisa ser tão expressivo assim; Uma rubrica ou uma descrição na narrativa já resolve o problema. Sério.

Esses erros chegam a ser fatais, principalmente porque fazer rir é tão complicado quanto fazer chorar; Quanto mais você tenta detalhar, mais você estará cansando o leitor. Mas eu costumo pensar que, arrumar um roteiro é mais fácil do que corrigir um enredo; E esse não precisa ser o caso do sitcom.
Amei o Pato, apesar de politicamente incorreto - a gente tem facilidade para gostar do que é errado, não? Não, porque não me simpatizei com o Dog, lidemos.

Mas o sitcom conseguiu me fazer rir, só precisa melhorar no roteiro. Fazer o quê? Errar todo mundo erra; Faz parte da vida; Coisas da vida.

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