Parece que virou epidemia, e das boas. A emissora Belas Histórias finalmente estreou um roteiro sem mescla com literatura em sua programação. Trata-se da série O Desfile do Crime, do nosso Ricardo Goulart e supervisionada por Félix, que tem como objetivo mostrar que o buraco no Rio de Janeiro é mais fundo.
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Segundo a sinopse:
Anísio Abraão sempre foi um bicheiro implacável no estado do Rio de Janeiro. De alguns anos para cá, o governador do RJ, Hélio de Oliveira, resolveu ir contra o prefeito da cidade maravilhosa, Miro Garcia, que sempre simpatizou com o bicheiro, e autorizou uma invasão à favela do Marézinho em busca de Anísio Abraão, patrono da escola de samba Unidos do Marézinho, que sempre foi destaque no grupo especial do RJ.
Anísio, no dia da invasão, teme que seja encontrado na favela e foge. Alguns acontecimentos fazem com que Hélio se choque contra Miro, Anísio, o tráfico e as ilegalidades distribuídas pela cidade maravilhosa. Em todo o tempo, as relações entre bandido, governante, bicheiro e tráfico serão feitas.
Enquanto isso, no plano de fundo, na Sapucaí, o sorriso e a concorrência permanecem sem limites, todos exibindo o que seus queridos bicheiros e traficantes lhes financiaram com todo o carinho.
Pra começar, eu quase desisti da leitura só em bater o olho. Quem consegue ler um texto parecendo que está TODO em negrito, narrativa em letras maiúsculas, ou propositalmente espaçado para dar a falsa impressão de texto longo? Ninguém, não é verdade? Mas como era supervisionada pelo Félix e uma raridade da emissora (lê-se roteiro por lá), eu me dei o trabalho de copiar, jogar no meio lindo Word e tirar o negrito. Também reformatei só pra concluir que o roteiro não tem 15 páginas como aparenta, e sim, 10, eu disse deeeeeeeez páginas.
Pois muito bem, você vai dizer que o que importa é a história? Não estou falando da arte da série (banner e abertura); Estou me referindo a apresentação da obra que acaba sendo o currículo do autor. Se eu tivesse conhecido Instintos Ferozes pelo site do autor Rodrigo Ferreira, eu acho que nem ânimo eu teria de ler. Em O desfile não há nem créditos. Uma pena.
Quanto a apresentação dos personagens, achei meio literário. Quando você assiste a série na TV, você só sabe que fulano é prefeito, bandido ou marido da governadora quando são apresentadas durante um diálogo, uma plaqueta sobre a mesa com a inscrição "Prefeito", qualquer coisa, menos o narrador dizer: "Esse é ciclano". A menos que seja uma dramédia, um sitcom, qualquer coisa do gênero. Não sei se o roteiro entregue a um diretor funciona da forma como o autor fez, mas aí é outra história.
"[..."ANÍSIO BATE O TELEFONE E OLHA PARA OS LADOS. ELE VAI ATÉ O
ARMÁRIO, O ABRE, PEGA UMA MALA, A ABRE E SAI JOGANDO ALGUMAS
ROUPAS, RETIRADAS DE DENTRO DO ARMÁRIO, ALI. "
Alguém viu o Anísio retirar as roupas de dentro do armário? Não, ninguém viu. A impressão que eu tenho é que o autor teve pressa em concluir o piloto, porque você não pode esperar que o leitor imagine a cena toda, é como escrever:
"Dona Maria abriu o armário e de lá retirou seu amante latino, que se escondeu do marido de Maria assim que ele saiu pra trabalhar como agiota."
Isso é possível? NÃO! Não me estresse desse jeito . Você precisa descrever a cena, do mesmo modo como você veria na TV.
O piloto inteeeeeeeeeeiro girando em torno da caçada ao chefe do morro, com diálogos permeados por palavrões e palavreado chulo, narrativa ágil, principalmente nas cenas dos policiais invadindo a área. Mas achei pouco desenvolvido, uma versão da série A Teia e do filme Tropa de Elite, mas faltando aquele Wagner Moura pra calibrar qualquer texto, sabe? Eu sinceramente achei alguns diálogos fracos, como se estivessem alí apenas para levar a cena adiante.
E como você já percebeu eu não pretendo continuar a leitura, bem mais pela formatação do que pela história da minha linda cidade.
Mas pra quem quer conhecer o
InFELIXmente.