Boa noite, caros, baratos e gratuitos amigos!
No último dia 15 de abril estreou pela TV Virtual a série Friendzone, do meu amigo Walter Hugo. Para quem não se lembra, Walter Hugo é autor literário de BrookHaven e da ótima fanfic Harper's Island e resolveu se arriscar ao escrever em roteiro.
Relembre a sinopse:
Nova Iorque. Apresentada como remake descarado de Friends, Friendzone conta a rotina cotidiana de seis amigos em seus vinte e poucos anos: Mark Stevens (O Nerd), Kate Campbell (A Gostosa), Tori Stevens (A Maníaca), Jared Bennett (O Pegador), Natalie Venturi (A Conselheira) e Derek Oliveira (O Brasileiro). Friendzone consegue em poucos episódios lidar com situações bem humoradas, com dramas do cotidiano e, acima de tudo, a quebra de estereótipos que os americanos têm para conosco. Tudo começa quando Kate se muda para o prédio onde Mark, Jared e Tori moram e Mark demonstra interesse nela. Ao decorrer da série eles vão percebendo que nem tudo é um mar de rosas na vida adulta e que para se dar bem na cidade grande é preciso passar pelos obstáculos propostos pela sociedade e superar suas próprias capacidades.
Sinopse perfect, né amigos? Mas e o roteiro?
Será que deu certo?
Devo amolar a minha faca?
A faca é cega, mais ainda corta, #FábioJr?
Descendo com a faca na mão pra garantir...
Sair do mundo literário diretamente para o roteiro, não é das tarefas mais fáceis, mas é um desafio o qual o autor Walter Hugo se propôs a aceitar.
Embora nem todos atentam para isso, a ordem fílmica de um roteiro precisa ser respeitada, pelo menos para iniciantes, em alguns dados momentos. Por exemplo:
"Mark entra no condomínio e se dirige até o local onde são colocadas as cartas e contas dos moradores. Ele procura a chave na sua mochila do trabalho,[...]"
O episódio começa sem que nos seja apresentada as características do personagem, como por exemplo, o fato dele ter entrado com a mochila. E em seguida, ele procura uma coisa que, diante da TV, você só saberia ser a chave se ele dissesse. Além disso, pela ordem fílmica, "ele procura, na mochila do trabalho, alguma coisa". Pequenas mudanças tornam o roteiro mais próximo de como veríamos na TV, muito embora para quem sempre escreve em formato literário, o que o autor escreveu foi totalmente compreensível. Pra mim também, mas é uma questão de estrutura de roteiro, tá? Então não me atire a pedra...
"Jared, o colega de quarto de Mark, e Kate, estão no elevador."
Esse é um exemplo de relação não filmável. Embora você já tenha apresentado os personagens em uma página específica, não se pode indicar as relações desta forma, querendo resumir o roteiro. O público saberá que Jared é colega de quarto de Mark quando ambos estiverem no mesmo quarto ...A cena mostrada dirá tudo . Esse tipo de problema pode ser visto em quase todo o episódio.
"Mark organizava as prateleiras da sessão de DVDs da loja quando Martie chegou a seu encontro. Ela usava uma fita azul que prendia o cabelo num rabo de cavalo e um decote médio, mas suficiente para distrair Mark e derrubar dez DVDs no chão."
Verbos no passado, desta forma, são inaceitáveis, uma vez que roteiro é uma experiência que acontece no tempo, ou seja, tudo ocorre no momento em que você começa a assistir, a não ser, quando a câmera mostra que um personagem já está na cena, como nesse exemplo:
"Renato já chegou alí." (Novela Celebridade - 1º capítulo).
Não é comum, mas é relevante.
" Natalie dá um chute na virilha de Mark, e ele se contorce de dor. Natalie o põe sob seu braço e os dois saem do depósito. Mark, vermelho de dor, sem nem poder falar, a acompanha.
NATALIE – Ele pisou num rodo e o cabo acertou lá. Estou levando ele para o hospital, até mais tarde!"
Pra quem Natalie disse isso? Fica o mistério...
A falta de informação em determinadas cenas confirma a impressão que tive do autor em querer resumir seu piloto, como na cena em que Jared vai até o apartamento a fim de buscar Kate para um encontro:
"[...]JARED – Passo. Faltam três episódios para eu chegar nesse e eu me recuso a receber qualquer spoiler. DETESTO spoilers.
Kate sai do quarto, completamente linda e produzida para Jared. Ele beija a sua mão e a acompanha para fora do apartamento."
Imagine a cena: Kate sai completamente linda, e Jared não esboça nenhuma reação. Aí ele a beija na mão e, sem falar nada, os dois saem do apartamento. Oi? Nessa até Eduardo Amaral reagiria, pelo menos pra comentar a grife da roupa dela, né?
Apesar de ser uma cópia descarada de Friends - eu nunca assisti Friends - acredito que merecia mais atenção, pois o piloto deixou a desejar, com furos dramáticos e um plot fraco para o segundo episódio. Mas sei que fica difícil trabalhar um episódio dentro de OITO PÁGINAS...
Entretanto, tenho que dar os parabéns para o autor, já que pelo menos ele não cometeu o deslize que muitos iniciantes cometem, como encher uma cena de diálogos ou resumir, no cabeçalho, a cena que será narrada. Um bom exemplo disso: "CENA 1 INT./DIA MARIA DISCUTE COM JOÃO"
Vale lembrar que todo roteiro tem lá as suas falhas, e sempre pode ser melhorado. Muitos podem amar o seu roteiro pelo simples fato dele ser curto e feito para ser entendido de imediato, mas termino essa review com uma citação:
"Para melhor cometê-los (os erros)[...] Também não é fácil, todavia, cometer bem os erros, de uma maneira que tenha sentido e força, e isso muitas vezes requer tanta habilidade quanto não cometer erro nenhum.
(Michel Chion, O ROTEIRO DE CINEMA, página 239)"
Leia o piloto!
Friendzone | O que tem de novo no remake?
maio 04, 2014
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