Primeiras Impressões | Chamas da Liberdade

Cristina Ravela
0
Muito anunciada no Facebook, a webnovela Chamas da Liberdade, de João Carvalho Netto, estreou na última semana de janeiro com a promessa de ser mais um novelão. Mas será que as chamas não passaram de faíscas? Confira a nova review!


Segundo a sinopse, "Chamas Da Liberdade" conta a história de um homem amargurado pela vida, Marcelo Brandão, que esconde em si o segredo de toda sua fortuna, e de onde ele tira cristais que são milagrosos. Para conquistar sua liberdade, muitas cabeças rolaram, e agora chegou a hora das pessoas que mais sofreram pedir de volta o preço de sua liberdade.

O 1º capítulo foi supervisionado por Diogo de Castro (Laços de Amizade e vice da WebTV), logo aconselho o João a tomar mais cuidado ao pedir supervisão da concorrente.


A trama começa com Marcelo recebendo o povo e a pova numa festa em comemoração aos 35 anos da roubalheira empresa de Cristais. Em seguida, garantindo a esposa Celinha que ninguém nunca descobriria de onde ele, José Alfredo , tirava os cristais, acabou assassinado diante do povo, que certamente surrupiou os salgados e saiu à francesa (em toda boa festa isso acontece).

A partir daí, vivemos um flashback até o fim do capítulo com uma sucessão de erros e temeridades. Marcelo vê seu pai Romeu ir atrás de um fazendeiro chamado Duval, para dizer que nem por cima de seu cadáver ele iria despejá-lo de sua fazenda. Romeu tomou um tiro na testa e Marcelo o encontrou no quintal, jogado ás traças. Confira a sequência:

"Duval tira um revólver do bolso, se levanta rapidamente, imprensa Romeu na parede, e coloca o revólver em sua cabeça/
DUVAL    – Eu vou acabar com a sua raça e deixar você apodrecer… E amanhã você vai estar com a boca cheia de formigas!
Romeu se assusta, e se afasta, mas vê a altura do lugar.
ROMEU    –    Pois bem me mate… (BATE A MÃO NO PEITO) Prefiro morrer como herói, do que viver às custas de um crápula como você!
Duval atira na testa de Romeu, que cai morto no chão. Para finalizar, ele assopra a ponta da arma, e joga o corpo de Romeu pela janela."

"Mas vê a altura do lugar", Que altura, homi de Deus? Se eles estavam na sala de estar. Em nenhum momento foi dito que essa sala ficava a metros do chão. Sem contar que o Romeu não foi um herói enfrentando um cara armado. Foi um otário, isso sim.

Depois o Marcelo volta pra casa com o pai morto nos braços, aí chega o Duval, oferece grana pro Marcelo ir para o Rio de Janeiro, enquanto ele se casaria com a mãe dele, a Julieta da história. Tudo muito simples e aceitável.

"NEIDE    – (CHORANDO) Vá meu filho… Eu sei que dói tudo que aconteceu, mas será melhor pra você, melhor pra mim, você não tem condições de cuidar de duas pessoas!"

Essa Neide é a Julieta da história que aceita resignadamente a proposta descabida diante do Romeu morto.
Então Marcelo vai para o aeroporto e acontece o seguinte, após ele comprar a passagem:

"Marcelo sai andando pelo aeroporto. Ele fica sentado no chão. O tempo vai passando, até que chega às 18h00. Ele se levanta e entra no avião. Vemos voo partir.
CORTA PARA/
Cena 8. Aeroporto do Rio de Janeiro. Tarde. Int.Sonoplastia: Só em Teus Braços – Nana Caymmi.
O avião pousa. Muitas pessoas vão saindo de dentro dele. Vemos Marcelo saindo. Marcelo desce, com uma pequena mochila nas costas, fica a observador tudo.
MARCELO       –    Eu vou viver minha vida da melhor forma possível… Vou mostrar que eu sou capaz de ser um homem respeitado!
Marcelo abre os braços, olhando para cima. A CAM. Vai se afastando, e vemos apenas um ponto, gritando.
MARCELO       –    (Cont./Gritando) Rio de Janeiro, me entrego em seus braços!"

Isso me fez lembrar o Noah de The Hamptons e sua chegada triunfal aos Estados Unidos.

Faltou um "Série de Planos" para mostrar os momentos em que Marcelo ficou no aeroporto, onde também poderia ser inserido a entrada no avião. Já que não curte colocar cabeçalhos em cenas curtas, um "Série de Planos" ajuda e muito.
Sem contar que o  Marcelo parecia feliz ao chegar na cidade maravilhosa. Ele foi expulso de casa, ok? Perdeu o pai, amigo, e não o periquito.

O mau desenvolvimento do roteiro se repete na cena seguinte, ao chegar num bordel, onde ele pensa ser um hotelzinho barato.


"MARCELO       –    O que você quer de mim?
Iolanda se levanta, chega perto de Marcelo e puxa a sua toalha, e deixa-o nu.
IOLANDA       –    Nossa! Parece que não me enganei ao dizer que você é interessante…
Iolanda puxa Marcelo, e o joga na cama. No início ele se assusta, mas depois se entrega e fazem sexo loucamente. 
Gemidos de ambas as partes são escutados/"

PELO AMOR DE DEUS, DA PRÓXIMA VEZ, CHAMEM O JP TUSSET PRA CENAS QUENTES, POR FAVOR!


Seguindo direto pro final, onde há uma passagem de 10 anos (que deveria estar destacado de outra forma no roteiro), Marcelo e Yolanda são sócios de um bordel de luxo. Yolanda pede que ele tome cuidado com um tal de Virgílio, em seguida, Virgílio conta para Marcelo que sua mãe foi assassinada pelos militares, deu suas condolências e saiu tranquilamente.
Marcelo, muito esperto, quase vidente, lembrou-se do conselho da puta e deduziu que Virgílio matou sua mãe. Então o vidente manda uma quenga capturar o Virgilio em seu quarto e fazê-lo confessar o crime. Dito e feito! O idiota confessou e o capítulo termina com Marcelo apontando a arma para um Virgilio preparado, digo, nu.


Começou bem e derrapou do meio ao fim. Resumo de cenas, justificativas e alguns diálogos forçados, erros claros de roteiro. Resumir uma cena não a torna ágil; A torna vazia.
Escrever "Fulano pega a arma e mata ciclano", isso é resumir a cena.
"Fulano pega a arma, aponta para ciclano e atira. Ciclano cai morto", Isso é uma cena aceitável.

O que faz o roteiro ser ágil é a forma como você dispõe a narrativa e seus termos técnicos, e não a falta deles.

Um abraço ao João, a Isabelle (que escreveu com o autor) e ao Diogo.


Saindo pela porta dos fundos...

Postar um comentário

0Comentários

Please Select Embedded Mode To show the Comment System.*

#buttons=(Aceitar !) #days=(20)

Nosso site usa cookies para melhorar sua experiência. Saiba mais
Accept !