OBS.: O post abaixo ganhou uma errata na qual você pode conferir AQUI. Wesley Alcântara não escreveu a obra a seguir, muito embora, seu nome constasse na lista de autores. Agradeço!
Wesley Alcântara, o autor de (falsa) "PODEROSA", está de volta à minha coluna, aqui, no Blog da Zih, para nova resenha. Depois de receber nota 7 - e reclamar de ser alta demais perante a crítica (!) - vi que o contratado da WebTV envolveu-se em novo roteiro, agora pela TVN, e decidi conferir se o autor andou aplicando aquilo que o mestre Batman passou-lhe com tanto esforço. Mas eu nunca desisto, amigos. Em parceria com Matheus Riccaz e Lucas Soares, o roteiro da novela "Um dia de cada vez" foi publicado dia 11 e recebe sua primeira resenha até então.
Na outra resenha, comecei falando de "A dama de ferro" (2012), mas, nessa, prefiro "A hora do pesadelo" (1984). As semelhanças desse filme com "Um dia de cada vez" não são muitas, mas encontram-se em um fator bastante importante: assustar quem lê/assiste. A novela de Riccaz, Soares e Alcântara é um complexo de terror: personagens mal formulados, apresentações desconexas e uma completa falta de coesão e coerência formam um palco completo para o desagrado de qualquer um que queira ler a obra com o mínimo de sinceridade.
A história conta a vida de Lidiane, mulher rica, que se envolve com um golpista, Ivan. O casal vê-se grávido de uma criança antes mesmo do casamento. O capítulo inicia com uma breve apresentação do palco introdutório da trama: Salvador. Somos apresentados, de cara, ao personagem Ivan, o grande vilão do capítulo. E a primeira grande observação que quero fazer é: descrição. Durante todo o capítulo, minha imaginação de nada serviu. Cenas que não propunham idade e características - ao menos gerais - dos personagens tornaram a trama uma completa generalização. No início da segunda fase, por exemplo, a partir da cena 41, senti falta da idade dos personagens. Crianças surgiam - acho que eram crianças - e adultos também, mas não sabia se eram realmente. 14 anos? 10 anos? A única coisa que ajudou foi a marcação temporal, indicando a passagem de tempo em 17 anos, mas isso não me fez saber como as crianças são, por exemplo, em quesito físico...
Mas voltemos ao que me fez comparar "Um dia de cada vez" a um verdadeiro filme de terror: as cenas da primeira fase da trama. Observe.
Ivan aparece com um celular na mão.
IVAN: — (desesperado) Não tem sinal!
LIDIANE:— (sente dores) Me dá esse celular!
Ivan entrega o celular pra Lidiane.
LIDIANE:— Sabe o que vou fazer com essa porcaria?
Lidiane pega o celular e o joga longe. Ela continua gritando de dor.
IVAN: — (desesperado) Tem alguma coisa que eu possa fazer por você meu amor?
LIDIANE:— Tem sim! Quero que você faça esse parto!
Como assim, querida Lidiane? As falas soaram tão falsas, que não dá pra acreditar que ela estava falando sério. Uma mulher rica, grávida, no meio de uma fazenda (pelo visto, velha e sem grandes condições), pedindo pro marido - que não é médico, nem nada - fazer o parto. Enfim. Ele vai atrás de ajuda. Nesse meio tempo, Lidiane não segura o bebê e resolve fazer o parto por conta própria. Siga:
"Lidiane faz força, ao mesmo tempo que grita. Ela continua fazendo força, até que a criança finalmente nasce. Lidiane pega o bebê.
LIDIANE:— É uma menina. É uma menina... Minha filha."
Isso foi Lidiane parindo um bebê. Assim, como se tivesse ido ao banheiro e defecado. Simples assim.
Continuemos. Não dura muito e a luz volta. Ivan tem o estalo Albert Einstein, vê que a luz voltou e decide voltar à casa. Pra quê? Não sei... Só sei que luz não pare bebê, então porque voltar e não prosseguir, para pedir socorro, é um mistério. Lá na casa, Lidiane já chamou a emergência. Inclusive a polícia. Mas, bem, não durou muito. Acabou desmaiando. Ivan chegou, achou o bebê e fez cara de bobo alegre com a filha nos braços.
Ivan vem entrando em casa. Ele caminha até o quarto. Ao chegar lá ele encontra Lidiane desmaiada na cama e se esvaindo em sangue e o bebê ao seu lado.
IVAN: — (perplexo) Meu Deus... nasceu!
Ivan pega a criança e observa seu sexo...
IVAN: — É menina! (feliz) Uma princesinha.
E um ano depois vê que a esposa está desmaiada...
Ele balança a criança em seu colo por um tempo... Até que percebe Lidiane desmaiada. Ivan coloca a criança na cama, deitada e começa a sacudir Lidiane suavemente.
Agora, adivinhem? A polícia chega; o bandido fica com medo, acha que a mulher morreu e decide fugir. Uma bela reação para um bandido mega experiente, não? Nem conferiu se a coitada estava, realmente, morta. But... Prosseguiu. Saiu correndo e, na própria fazenda, achou um carro para a fuga. Mas espera aí, povo brasileiro... Se ele já sabia que tinha um carro, por que não usar para pedir socorro?
Lidiane vai parar no hospital, mas decide fugir e procurar sua família, voltando para a Bahia. O problema é que está debilitada, mal... Mas os autores parecem ter ignorado isso e prosseguiram: pegou o primeiro avião. Quando chega lá, descobre que seu pai morreu. Vai ao cemitério e, na volta, acha um bebê no meio da rua, enquanto bebia uma refrescante água de coco. "Ah, vou levar para cuidar" - mais ou menos isso - e decidiu criar a filha, já que Ivan roubou a sua - algo meio "Amor à vida" retalhado -. E, acima de tudo, prometeu justiça (clichêzada).
O capítulo podia terminar aqui, porque o resto foi Malhação; que nem em "PODEROSA" - acho, aliás, que foi Alcântara, quem escreveu daqui pra baixo -: criançada brigando, arrancando cabelo, jogando-se no chão. Lindo. Pro horário das 17h.
E, pra terminar, a frase que marcou o filme de terror, com cenas inimagináveis e extremamente sem caracterização:
CENA 24/ HOSPITAL/ EXTERIOR/ DIA.
Faixada de um dos hospitais da cidade.
Gostaria de deixar claro que a trama tem um roteiro bem editado, com bons cortes, um bom começo e personagens que seriam bons... Se possuíssem boas construções e boas investidas. Mas, não têm. Ademais, aos autores, vírgulas ainda existem.
Nota 5,0.
Por hoje é isso! Até mais.