Resenha | Silêncios, conto de Francisco Siqueira

Cristina Ravela
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Silêncios foi exibida originalmente na Widcyber, e agora integra o catálogo da webtvplay.

Resenha do conto Silêncios
Resenha de Silêncios.

São muitas histórias que passam em nossa timeline, e algumas a gente nem acompanha por 'N' fatores - falta de tempo, zero interesse pelo tema ou gênero, esquecimento, etc. E numa delas, deixei passar o conto Silêncios, escrita por Francisco Siqueira (Eu, Kadu e Os Pecados de Cada Um).

Hoje, trago a resenha desse conto com história que, apesar de centrada na década de 80, pode ser considerada atemporal. Vamos lá?

Silêncios: a força está no personagem

Quem conhece as tramas escritas por Francisco Siqueira, sabe como ele fortifica a presença de seu protagonista. Sempre emblemáticos, seus personagens ganham um propósito no universo literário do autor: revelar uma angústia desesperada de um personagem que, na tentativa de se livrar de um confronto com seus monstros internos, responde aos seus desejos carnais de forma mais gritante possível. 

Com isso, os relacionamentos passam a ser rasos, com um caso aqui e outro ali, mas nenhum deles completa o personagem, inundado por suas próprias escolhas, geralmente erradas.

Assim acontece em Silêncios, conto que traz Fernando, o personagem central da história, relatando os problemas na relação com Henrique. Um dos seus tormentos era achar que foi o pivô da separação de Henrique e Laura, apesar da relação deles já estar desgastada.

Não bastasse isso, seu enteado está de volta, com mais de 20 anos de idade, deixando Fernando inquieto pela nova paixão. No entanto, diferente de todas as relações abertas que ele teve, dessa vez ele recuou.

Não vou entrar em muitos detalhes para não soltar spoilers, mas Silêncios fala mais do personagem em torno de suas angústias, vivendo uma época de epidemia da AIDS e observando o tratamento dispensado aos homossexuais, como se fossem culpados pela doença.

Falando sobre isso, o conto é atemporal; em nenhum momento é citada a palavra AIDS, apenas vírus e epidemia. Você apenas sabe qual é a doença por dois motivos: o autor inseriu os anos de 1982 e 1989, e pelas características do personagem perante a morte.

Acredito que isso foi proposital, até para testar a capacidade de observação do leitor. Confesso que esperava mais alguns detalhes para inserir o leitor ao universo oitentista do conto, mas o foco e a força da história estavam no personagem; a epidemia e as características dos anos 80 eram parte do plano de fundo.

Como citei ali em cima, Silêncios fala mais sobre o personagem que da narrativa, embora haja características desse recurso, como o conflito do protagonista diante da nova paixão (se deveria dar seguimento ou não). Ainda assim, a história trata mais dos sentimentos que povoam o coração de Fernando e os meandros da situação em que ele mesmo se colocou.

História bem escrita, profunda e com final emocionante. Quem leu Os Pecados de Cada Um vai se encontrar em Silêncios: protagonista psicólogo, palavras como "mise-em-scéne" e "frigir dos ovos" (queridinhas do autor), o conflito com a própria sombra e a inquietude de um ser perante seus desejos. É uma leitura que vale a pena.

Nota de 1 a 5:

4.5


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