Aos 30, Melqui ganha um documentário. E você, o que está fazendo com essa sua vida?
No último dia 08 de abril, Melquisedeque Rodrigues de Souza apresentou ao público um pouco da sua história, através de um documentário exibido na webtv Rajax. O autor, que se autodenomina “artista mundialmente desconhecido e ignorado pela sociedade” falou, entre outros assuntos, sobre a origem do seu nome, carreira nacional e internacional, e seus projetos de sucesso. O especial foi lançado em comemoração ao aniversário de 30 anos do artista, e promete em quatro episódios, acompanhar a trajetória dessa estrela em ascensão.
Logo de cara, Melqui
explica o significado do seu nome, porém, não aprofunda sobre suas origens
reais. Explico. Sim, é interessantíssimo saber qual mensagem seu nome carrega,
mas em um documentário que se propõe a explanar suas raízes, ficou faltando
aprofundar um pouco mais nos primeiros anos do artista. Quem são os pais de
Melqui? Quem são os seus ídolos? Em quem Melqui se inspira para criar? Ele até
que iniciou informando que em 2010 começou a aflorar seu lado artístico, mas o
que o motivou? São essas informações importantíssimas que de alguma forma foram
omitidas.
É interessante notar que a
inclusão no portal Glook não somente lançou Melqui no universo das WebTvs, mas
o ajudou em sua evolução pessoal ao colaborar com o desenvolvimento do seu
espanhol. Graças à fluência no idioma, Melqui recentemente conseguiu
entrevistar o autor e o elenco de uma série espanhola exibida na Amazon.
Em 2018, após exibir seu grande
sucesso no portal Glook, o artista comenta o êxito da série Vale Dicere, que
parece ser o grande divisor de águas na sua carreira. Com uma temática sobre vírus,
cães zumbis e caos apocalíptico, VD deixou o público em polvorosa. O autor falou
sobre a explosão na audiência: “O êxito
da série estava fora dos meus planos, eu pensava apenas em fazer uma historinha
legal pros amiguinhos lerem e pá! Mas aí quando eu vi o crescimento mundial da
obra, fiquei um pouco receoso porque não sabia o que fazer”. Parece que o
mundo curvou-se diante de Vale Dicere, e com isso, nascia uma estrela.
Com uma audiência digna de
Avenida Brasil, famílias inteiras se reuniam no México para acompanhar os
desdobramentos desse fenômeno, conforme apurado no documentário. E Vale Dicere
fez o nome de Melqui Rodrigues descansar no panteão de autores consagrados
nacional e internacionalmente. Todavia, há quem discorde.
Como o próprio Melqui já
disse, alguns quiseram humilhá-lo alegando que sua escrita era “ruinzinha, irritante e horrorosa”. É de
praxe que quando alguém se expõe, sempre haverá críticas. Com Melqui, não seria
diferente. Eu mesmo já analisei as obras do autor. Na época, lembro ter
afirmado que Melqui escreve no fluxo, jogando as palavras como se estivesse
assistindo os eventos narrados. O que não é errado, a não ser que você não
retorne para revisar o que escreveu.
Veja aqui as Primeiras Impressões sobre a 2ª Temporada de Vale Dicere
Apesar das críticas à sua
escrita, o que não podemos ignorar é a capacidade de autopromoção do artista –
inclusive, um requisito para ser bem sucedido em qualquer área da vida, segundo
estudiosos. Quem ao completar 30 anos ganha um especial sobre si? O que Melqui
pode e vai aprontar ao completar 40? E no quinquagésimo aniversário, o que
veremos sobre essa estrela? O que
podemos aprender com Melqui se resume nesse ditado: “Falem bem ou falem mal,
mas falem de mim”. Você ainda dúvida?
Para finalizar, o autor
termina sua fala de forma um pouco incongruente. Ele discorre sobre a
dificuldade que teve com o gênero literário do Brasil, veja: “Um dos maiores golpes que eu tive quando
cheguei no MV daqui do Brasil foi justamente a escrita dos brasileiros. Sorry,
gente! Mas eu achei terrível! Eu nunca tinha visto como os brasileiros
escreviam (irônico, né?”. Sim,
Melqui Rodrigues. Na verdade, não é irônico, é incompreensível! Mesmo fazendo
sucesso na gringa, creio que você frequentou a escola no Brasil, ou não?
Mas não termina por ai.
Melqui explica um pouco mais sua dificuldade com a língua, veja: “O problema que eu já estava acostumado com a
estrutura de escrita gringa e achei devastador quando vi a forma que é o
literário no Brasil. Tipo, o formato roteiro já é lindo e segue o padrão
americano, mas o literário é TOTALMNTE DIFERENTE”. Desculpa discordar
amigo, mas o literário na gringa e o literário no Brasil não são tão diferentes
assim. É claro, que o estilo, a abordagem a narrativa, o narrador sempre vão
mudar dependendo do autor e de sua cultura.
Mas, a estrutura literária é a mesma aqui e na China. Narra-se em
primeira, em terceira e em alguns poucos casos em segunda pessoa. A história
deve ter personagens, um espaço, uma cadeia de eventos, diálogos, descrições entre
outros elementos essenciais.
Sim, vamos concordar que a
língua portuguesa tem seus inúmeros desafios. Porém, o que acredito é que
escrever vai bem mais além do ambiente em que você se encontra ou do estilo de
narrar. Escrever, em minha opinião, é transportar uma verdade, nem que seja a
sua verdade. E, quando Melqui narra sua verdade, ele faz sucesso, independente
da crítica aceitar ou não, independente dos outros aplaudirem ou não.
Portanto, o documentário
acerta quando explora a trajetória profissional de Melqui, todavia, deixa a
desejar no campo pessoal. Talvez a direção não pensou em explorar esse pedaço
essencial, ou talvez veremos nos próximos episódios. Outro ponto polêmico foi a
opinião de Melqui sobre o gênero literário, o que está aberto para discussões
sobre as diferenças e semelhanças no Brasil e no resto do mundo. O que podemos
aprender com Melqui é de como promover sua própria história e sua obra. Como
ser feliz em transportar sua verdade, bem escrita ou mal escrita, depende dos
olhos de quem vê. E, de como ter uma autoestima inabalável, nisto Melqui
Rodrigues é mestre e pode te dar umas dicas.
Até a próxima.