Quando Fala a Noite é um conto escrito por Pedro Montanaro para a Widcyber e que quase passou despercebida no MV.
Resenha de Quando Fala a Noite. |
Faz um tempo que não apareço aqui para uma resenha, mas é que agora minhas resenhas são especiais para obras especiais.
E recentemente li Quando Fala a Noite, do mesmo autor de O Fiel Seguidor, obra original da Webtvplay que estreou no último final de semana.
Não vi nenhuma divulgação da obra – autores, please, divulguem suas obras, não esperem apenas pela emissora – e, por isso, só agora conheci essa história.
Como fã de Ruben Fonseca e de obras de cunho policial e criminal, será que gostei da obra? Hmm, vamos lá!
Quando Fala a Noite: o poder da narrativa de crime
Escrever uma história de crime não é fácil, já que é preciso estabelecer quem vai ganhar o protagonismo: o criminoso, a polícia ou a vítima?
O conto A Cobrança, por exemplo, inspirado em uma das histórias de Ruben Fonseca, tem como foco o protagonista (um matador) e sua jornada para cumprir sua missão.
Já em Quando Fala a Noite a exposição do cenário caótico tem destaque principal sob a ótica de um observador indiscreto.
Sua perfeita capacidade analítica sobre o que desnudava-se diante de seus olhos mostra que saber o que e onde ambientar sua história pode ser mais ou tão importante quanto se preocupar com o poder do personagem principal.
Por outro lado, os outros personagens se destacam, como os selvagens, os bravos e os feios (como o próprio autor classifica aqueles que roubam e agridem os mais fracos), e claro, o Zé Domingos, a consciência bestial, o mal em forma de gente, o bandido atrás do riso fácil e das capas de jornais.
Seria uma versão remasterizada de O Bom, o Mau e o Feio?
Não, senhoras e senhores, já que no conto não tem ninguém em busca de um tesouro perdido. Mas tem gente má, feia e boa (no caso, quem narra).
Nesse sentido, podemos afirmar que o personagem principal não precisa ser necessariamente uma pessoa. Ressalto, ainda, que pode ser o próprio ambiente que se destaca na "voz" do narrador e/ou várias pessoas que compõem esse cenário.
E quem é a figura do narrador? É o fotógrafo na Catedral da Sé, que tira fotos das obras de arte, enquanto o caos come solto na noite paulistana. A partir do momento em que ele vai ao fumódromo, ele tem acesso a outro tipo de "obra de arte": o outro lado da beleza de São Paulo.
O autor, então, consegue mostrar os dois lados da moeda, de maneira bruta e até irônica. É como olhar um slide de fotos onde, de um lado, tem uma linda praia; de outro, uma rua com esgoto a céu aberto. Enquanto uns se divertem, outros se perdem em meio ao caos urbano, sem a atenção das políticas públicas.
Em suma, a narração rica em detalhes daqueles personagens em um ambiente perigoso e insalubre revela um crime, com a conivência da polícia, cujos tiros rasgaram a noite e ganharam as capas de revista.
Que bonito, gente, me emocionei agora.
O que eu achei?
Um dos melhores contos de crime que já li em todos esses anos.
O protagonista (ou aquele que está a frente para narrar a história) teve um papel fundamental no conto para nos deixar a par do cenário e dos personagens que ali habitavam, muito embora, pouco foi dito sobre ele.
Ainda assim, por ser ele um fotógrafo, entende-se, nas entrelinhas, que o seu papel era justamente esse: prestar o serviço de observar, registrar e narrar o que ele via, enquanto se tornava testemunha de um crime.
Por fim, entendo o porquê da Widcyber ter aprovado o conto Quando Fala a Noite. Eu também aprovo.
Nota de 1 a 5:
5.0