Connected | Uma conexão perfeita entre tramas e personagens

Luiz Fernando de Oliveira
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A série tem tudo que uma estória precisa, desde o suspense passando pela ação e chegando no mistério

Atendo-me a essa fundamental questão lembrei de quando somos mais novos e assistimos aqueles desenhos e filmes em que os super-heróis têm superpoderes e ficamos brincando, imaginando se tivéssemos e tudo mais. Eu particularmente já quis saber lutar como o Bruce Lee, ter um “ultra-olho” igual ao do Dan Moroboshi e transformar-se no Ultra Seven, já quis ter objetos como a espada justiceira do Lion-O dos Thundercats, já quis ser Changeman e entre outros. E você? Já quis ter superpoderes? Contudo, era o que faltava no mundo virtual, uma boa e velha estória de heróis, no melhor estilo “Heroes“. Falando francamente, fazia muito tempo que eu não lia uma série virtual, e sentisse como se realmente assistisse a um filme. Eu estou falando da série virtual “Connected” do Brilhante Artur Junges Leme mesmo autor de "Second Chance" que esbanja muito talento e técnica com sua segunda empreitada. Não pude deixar de ater aos detalhes de cada cena, muito bem elaboradas e descritas com grande riqueza. E Leme já deixa explicito e comprovado que seu superpoder é o de escrever bem.


Ao meu ver Connected tem uma das melhores introduções de piloto que já li no mundo virtual, se não a melhor. Os cuidados com a cena chega ser um trabalho expressional de patente, narrado com muito detalhe, com um nível de carga dramática explosiva e um tom de suspense ácido. Conhecemos a personagem Emily (Emma Watson da Saga Harry Potter), como um tiro de canhão, pois, somos praticamente que jogados para estória. Leme faz isso com grande maestria, inunda a nossa imaginação e nos convida a um vislumbre artístico e de timing profissional, para deleite de nossos olhos, numa estória bem “desenvolvida” e amarrada. Entendam que desde a primeira página, da primeira palavra. O leitor necessita saber o que se passa concretamente na estória, não dever haver truques e muito menos ilusionismo. Temos que apresentar a informação da estória de maneira visual, mostrando quem é o personagem-principal, a premissa dramática, ou seja, sobre o que trata sua série ou capítulo do dia, e ressaltar a situação dramática nas circunstâncias que rodeiam o plano de ação, e não há melhor ilustração para isso do que a introdução de Connected, Leme tramou com a habilidade e precisão, camada por camada, e quanto mais lia os episódios mais percebia quão bom ele é realmente.

Poderíamos facilmente comparar sua “obra” com tantas outras séries de heróis, porém, Connected tem diálogos engajados e personagens de pesos, com peculiaridades tão ímpares, que sustentam quaisquer falhas de português e os colocam acima das demais séries virtuais. Quero estender por aqui essa ideia e usar a série Connected de exemplo, porque sem sombras de dúvidas é função dos escritores ultrapassar as barreiras dos limites humanos, invocando interpretações infinitas, tanto em relação ao que vemos quanto ao sentido natural de sua narrativa. Saibam que escrever não é simplesmente reproduzir ideias já pré-estabelecidas. É realmente orgânico, além de tudo, algo puramente inquieto, tanto em relação à profunda construção das personagens, quanto à intensa construção das falas. No âmago de uma narrativa, deve haver uma sólida vivência individual e uma visão extasiante de mundo que vêm à tona quando se arquiteta uma trama, e certamente Leme tira de Letra.

O que me chamou atenção em Connected foi à dedicação do autor, o que é muito importante e potencializa a trama, talvez a tonalidade de surrealidade colocada nela que nos transporta para um mundo realmente novo. Acho que é isso que deve ter nas demais séries “força de vontade”, pesquisa intensiva, se bem que a ficção abre um campo na mente para criação, esse é o lado aonde podemos despojar o que há de mais profundo em nossos pensamentos. Conforme a estória vai tomando dimensão, percebemos os diálogos sinceros e naturais que vão surgindo pela trama, nota-se como é muito descontraída a conversa, na qual Emily tem com o irmão Jeremy (Dan Byrd de Cougar Town) na calçada, sobre seus sonhos estranhos com seu pai morto. Destaque para a excêntrica personagem Zoe (Sierra Kusterbeck vocalista da banda VersaEmerge) que vive com os fones de ouvido. Cada episódio da série acaba com aquele gostinho de “quero mais”. No entanto, os episódios são muito curtos, mais é incrivelmente perfeito. E não devemos se preocupar com os erros de português, porque sim, eles existem, até mesmo eu os comento, e ninguém está livre deles. Veja o caso do roteirista David Goyer já provou que tem talento e capacidade para escrever ótimas histórias, porém, sabemos que é péssimo atrás das câmeras como diretor. Quero dizer que mesmo com erros de português, Connected não perde sua força, porque é através das constantes repetições de escritas que Leme alcançara a experiência lingüística. Agora é torcer para que Connected ganhe sua segunda temporada.

É ótimo encontrarmos pessoas que escrevem melhor do que nós próprios, porque encontramos aí uma oportunidade de crescermos e de aperfeiçoarmos também, e no mundo sempre haverá pessoas que estarão um passo a frente da gente, todavia, para sermos inteligentes e capazes, temos que nos rodear de pessoas mais capazes do que nós próprios seríamos. O que acho crucial e que quero passar para os leitores é a profunda “estupidez” de quem tem um nível de escolaridade ou de informação acima da média; normalmente, essas pessoas são as que mais quebram a cara, juro já fui assim, porque imaginamos que sabemos tudo e a coisa começa a pegar exatamente aí. Sinceramente eu não sei tudo, mas, estamos aprendendo com Leme. E quem sabe um dia, nós chegamos no nível dele. Não que as outras séries, e escritores não sejam bons, contudo, está aí Leme um escritor que não me deixa mentir, é um exemplo notável a ser seguido. Jogando no ventilador de 0 a 10, a série recebe 10 com fogos de artifícios, com menção honrosa, porque a série é dez, é praticamente quase 11.

Muito em breve haverá um “Dossiê Connected”, perscrutando e desmiuçando cada episódio da primeira temporada.

Na semana quem vem à próxima série jogada no ventilador será Rulebreakers do autor Bruno Araújo.

Coluna “Jogando no Ventilador”.

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