Breakeven | Boa premissa dramática, porém, enredo ruim

Luiz Fernando de Oliveira
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Não há um ponto de equilíbrio na série como na tradução do título em inglês

Já falei por aqui no BDZ, e torno a falar. A premissa, ou premissa dramática como chamamos, numa forma mais clara e básica, nada mais é que o “assunto” que um filme, ou série trata. Ela é inteiramente responsável pelo impulso dramático e o ponto de partida que dispara e move a estória para o desfecho. Em relação ao enredo, ou ação dramática, é o esqueleto da narrativa e o entrelaçamento de ações executadas ou que serão executadas pelas personagens no decorrer da estória, com a finalidade de sentimentalizar, ou até mesmo emocionar o “espectador”, no nosso caso, os “leitores”. Maurício Cândido já era pai de Daddy’s Girl, e agora dá a luz a sua mais nova criação: “Breakeven”. Entenderam, porque é muito importante isolar a essência de sua ideia em uma premissa dramática específica? E isso Cândido conseguiu atingir com grande destreza quando criou a ideia: “Quem Atirou Em Milo Dawson?”.




Cândido deixa de forma clara que o assunto do seu roteiro, ou melhor, da sua série é: “Por mais que tenhamos amigos, nunca contamos tudo um para o outro, ou seja, todos nós temos segredos, e até aonde as pessoas vão para mantê-lo”. É sobre esse contexto, na qual Cândido deve trabalhar no decorrer da série. E devem ser levantadas as seguintes questões: Com quem Milo falou? Será que deixou alguma fita gravada com alguém, ou guardada em algum cofre? Será que morreu realmente, ou simulou a própria morte porque corria risco de vida? Já não posso dizer o mesmo sobre o enredo, porque contém personagens e diálogos fracos, situação e ação mal desenvolvida, seqüências e cenas intragáveis, com exceção e sem dúvida da personagem Milo, que é construído de forma arquitetônica. Para que não desperdice a personagem, é fundamental, que Milo apareça durante a série através de “flashbacks”, mostrando o que ele próprio disse na gravação da fita da cápsula do tempo, ao dizer que sofreu nas mãos do grupo dos cinco amigos.

No meu ponto de vista, poderia ter havido até mesmo uma cena inicial, na qual um “flashforward” retratasse a morte de Milo. Por exemplo: “Imaginem a cena, Milo entra desesperado em seu apartamento, corre direto para um escritório, nervoso apanha alguns papéis da escrivaninha. Ao abrir uma gaveta de um arquivo de metal, ouve sons de passos, ao se virar vê uma pistola com um silenciador apontada para sua cabeça, não “vemos” quem é o portador da arma, somente sua mão com uma luva negra de couro, antes mesmo que Milo pudesse proferir qualquer palavra, o gatilho é puxado. A bala perfura a sua testa, fazendo Milo cair, quase que rapidamente. A tela escurece, entra abertura e para só depois vir a cena da formatura”. Digo isso porque fiquei cansado de ler o roteiro, 17 páginas, faltavam umas 23, e não acontecia nada. Não agüentava mais, estava a ponto de abandonar a crítica, quando apareceu Milo Dawson.

Se ao menos houvesse tido uma cena de suspense, com certeza iria enriquecer a trama e também despertar a curiosidade do leitor, estimular e não desistir de ler tão cedo a estória. Não pude deixar de notar, assim como na suas matérias no Flashback, Cândido tem o vício de usar a palavra “Vemos”. É um termo de roteiro criado pelo roteirista-consultor Syd Field, para substituir a palavra “câmera” no roteiro, porém, Cândido usa em excesso. Logo na seqüência inicial, o autor descreve uma cena assim: “A imagem se abre no salão de festa, onde vemos os formandos sentados à frente, enquanto os convidados estão atrás, também sentados. Na frente tem-se um palco, onde vemos uma mulher vestida elegantemente, subtende que é a diretora da escola. CLOSE EM CECILY que está sentada no palco, ela olha para frente concentrada”.

No final das contas, descreve que os formandos estão sentados à frente, enquanto os convidados estão atrás no ginásio, eu pergunto: “Sentados aonde?” Na arquibancada? Cadeiras improvisadas foram espalhadas pelo ginásio? Que fique claro para todos escritores e entendam que o roteiro é imagem. O Cândido usa tanto a palavra “Vemos”, que realmente o autor não acaba “vendo” o que está escrevendo, isso porque o leitor tem que imaginar a cena que está lendo. Nos é apresentada à personagem Cecily (Rachel Bilson, a intragável Summer de O.C.). Ela está sentada aonde no palco? Na margem, numa cadeira atrás da suposta diretora? Particularmente eu não consegui entender a cena, já tinha ficado entediado de início. A diretora deve ter um vozeirão daqueles, por conseguinte, não é mencionado se ela fala num microfone, ou num megafone, é uma Pavarotti sem dúvida. Acreditem os detalhes fazem a diferença.

Quando os formandos vão apanhar seus canudos de diplomas, até confundimos com um desfile de beldades, por um momento pensei que estava lendo Here I Am. Risos. Para mim, Não foi muito convincente o discurso de Cecily: “Ganhei, venci, aprendi e ainda deu tempo para amar”. Ela só esqueceu de falar que “perdeu” algumas vezes, humilde a mocinha, não é? Até certo ponto acho isso bom, e é importante ressaltar a imagem das personagens e mascará-las como pessoas certinhas e tudo mais, contudo, lá no fundo elas não são nada o que aparentam ser e escondem terríveis segredos. Cândido peca bastante no português, todavia, nada do que nos abale e fira nossos olhos. Pelo menos se atentar a uma revisão ou recorrer ao corretor ortográfico do Word. Por todo o roteiro encontramos dificultosas descrições do tipo: “A vemos beber um pouco de suco, que tem em um copo”, ao invés de simplesmente: “Ela bebe um gole do copo de suco”.

Achei engraçado Breakeven é o nome da série, e também o nome de uma das músicas da banda irlandesa de rock alternativo Chamada “The Script”, que significa roteiro na tradução português. Risos. Conclusão de tudo, a única personagem interessante é Milo, as coisas melhoram quando ele aparece, o resto deveria ser reescrito e o piloto não passa disso. Para quem não sabe ponto de equilíbrio se origina da palavra inglês “break-even-point”, é a denominação dada ao estudo, nas empresas, principalmente na área da contabilidade, onde o total das receitas é igual ao total das despesas. Neste ponto o resultado, ou lucro final, é igual a zero, seria a pontuação a qual série receberia, se não fosse pela premissa dramática. Ainda tenho dúvidas a questão da série. Jogando no ventilador de 0 a 10, a série recebe 5, por não ter apresentado um enredo forte, e que realmente nos intrigasse.

Coluna “Jogando no Ventilador”

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