Bem amigos da rede Grobo, digo, do BDZ. Você deve estar sentindo falta de mais posts, né? Mas é que a equipe inteeeeeeeeira está trabalhando nos últimos detalhes do maior evento do ano, o Troféu Imprensa Blog da Zih 2014. Diogo de Castro deve pular carnaval o ano todo, porque aqui ele nunca deu as caras; Já Douglas Souza se afastou -já disse que o pc dele foi confiscado pelo FBI? Não? Então esquece.
Muito Além do Horizonte, não? |
Mas aqui estou eu e trago pra você uma crítica boazinha de uma série que me surpreendeu, sabe. É que a série é exibida pela AdnTV e você sabe que qualquer obra de outra emissora que não seja da WebTV nem da TVSN sempre tem uma mistura frenética de literatura no roteiro né? Pois bem, a série é em roteiro, tem muita ação, balacobaco, um piloto sem cenas soltas E - solta os tambores, Arlindo Cruz! - Curti...Alguma coisa curti.
A série é Instintos Ferozes, de Rodrigo Ferreira. Li um trecho na divulgação pelo facebook e convido você a descobrir se esses Instintos são Ferozes mesmo.
Vai sambando até embaixo...
Primeiramente, a sinopse:
Quando sua esposa é raptada misteriosamente Danilo se vê num labirinto de segredos e mentiras, numa cidade misteriosa e macabra ele passará a investigar os incidentes que ocorrem nela, ele se depara com uma disputa entre duas famílias pelo controle do local e entre eles os habitantes da cidade que são meras vítimas na guerra entre as famílias. Nessa cidade de conflitos sociais e políticos ninguém está à salvo do que pode ocorrer ali Alguém está por trás desses mistérios, alguém é o causador de tanta dor e desgraça, sem mais volta agora a qualquer preço a verdade há de ser desvendada! Todos os outros terão de confiar em seus instintos, mas essa não é a melhor opção... É a única!
Pela sinopse eu passaria batida, porque nem o Danilo resolveria o mistério do sumiço da pontuação. Mas enfim, eu li a sinopse depois do piloto e alguns episódios, então...
O que foi essa primeira cena, gente?
"A ligação cai, Danilo acelera, um tiro no pneu, a ribanceira ao lado, Danilo anda em zigue-zague, mais um tiro estoura os faróis do carro e os vidros, Danilo treme, ele perde o controle, o carro rompe as barreiras, capotando diversas vezes até que cai num barranco às margens do rio, o fogo consome o carro. Um capanga sai, armado encarando o carro, nesse instante o carro explode."
A cena me lembrou a novela Jóia Rara na falsa morte de Sílvia (Nathália Dill), com a diferença de que em novela das seis e de época, não houve tiros, sem contar que essa perseguição de carros seria inviável na década de 40, porque, quem corria em altíssima velocidade lá? Ninguém, não é verdade?
Mas vai uma dica, sr. Rodrigo: Apesar d'eu ter adorado essas cenas ágeis, é válido lembrar que cenas de ação em roteiro combinam com parágrafos (não é obrigatório), mas para dar uma ideia mais forte do movimento rápido da câmera, espia só:
"A ligação cai, Danilo acelera,
Um tiro no pneu
A ribanceira ao lado
Danilo anda em zigue-zague
Mais um tiro estoura os faróis do carro"
Bem, aí lá pelas tantas descubro um cabeçalho oculto na cena 3, quando Danilo e um grupo de policiais entram em um heliporto, sendo que o cabeçalho é o mesmo do anterior, ou seja, a cena da estrada. É aquela ladainha de sempre: Cada cena em seu cabeçalho ou então vira bagunça.
Palavras repetidas em um único episódio significa falta do hábito de leitura. Procurar substituir "trêmula", "gélida" e "Atônito" por outras semelhantes ajuda a enriquecer o roteiro.
Uma coisa interessante é que a série não tem atores escalados, afinal, caríssimos, estão todos pela hora da morte, né? Mas onde está a descrição dos personagens no piloto? Eu não sei como eles são, suas características físicas, mas se depender dos diálogos o vilão Antônio Marco, inicialmente com pinta de Alexandre Nero, termina com ares de Igor Rickly, principalmente em algum episódio por aí. Mas isso é ruim? Não, de maneira nenhuma, mas ou o cara tem mais de 30 anos e com personalidade forte ou ele é um playboy de uns 25 anos fazendo o que outros querem.
Uma sugestão? Leve agora mesmo, inteiramente grátis um formulário de criação do personagem enviado por Israel Lima há 10 mil anos atrás . Você irá entender que construir um personagem é tão desafiante quanto entender de roteiro.
Ainda sobre os diálogos, através deles é que fica a impressão da personalidade e físico de uma pessoa, mas isso não substitui a obrigação de descrevê-la na primeira vez que elas aparecem. Há personagens com diálogos tolos, forçados, inexpressivos e até inacreditáveis, como aqui:
"DANILO – Amor, eu to prestes a ser promovido! E como você queria a gente vai pra Sampa… Eu sei que você não gosta dessa cidade, não sei porque, a gente vai se casar já lá em São Paulo se Deus quiser! Ai amor, to sentindo você tão distante ultimamente!"
Um delegado, suponho que não adolescente, agindo como se fosse. Sangue de G-zuis tem poder...
"– Berra, berra com gosto! Como se alguém fosse ser idiota de vir te ajudar! 39ª a caminho!"
Isso não é literatura, correto? Portanto, mesmo o personagem que não pode ser revelado em cena merece ter essa técnica empregada:
"VOZ MASCULINA: Berra, berra com gosto! Como se alguém fosse ser idiota de vir te ajudar! 39ª a caminho!"
Uma cena curiosa foi quando o delegado e carioca Danilo chegou ao Espírito Santo se dizendo paulista. Não há rúbrica indicando que ele forçou o sotaque, aliás, quase não há rúbricas.
Mas por incrível que pareça, apesar de 12 páginas de piloto o enredo não deixou a desejar, muitas coisas aconteceram depois que a noiva do herói foi sequestrada até ele se deparar com a Noite Proibida - Segundo a estória, em Paraíso do Sul, uma vez por mês acontece a noite onde não existe lei, tudo fica às escuras e quem estiver na rua, morre - e conhecer o seu pior pesadelo. Colocando cabeçalhos em seus devidos lugares, descrevendo os personagens, e usando mais diálogos consistentes, certamente o piloto teria pelo menos umas 15 páginas.
Aconselho ao autor a ler mais livros e roteiros para desenvolver seus diálogos para cada tipo de personagem e nos fazer acreditar que eles existem; Dê preferência áqueles que já foram analisados e elogiados, em seu todo ou em algum ponto onde você tem dificuldade. A gente sempre aprende um termo novo para empregar em nosso texto e torná-lo dinâmico; Cuidar melhor da sinopse, porque ela, em muitos casos, é a porta de entrada para a leitura; Aprender mais sobre técnicas de roteiro.
Falando assim, parece que Instintos Ferozes é um erro que vai do Caburaí ao Chuí (se preferir, do Oiapoque ao Chuí é o nosso velho conhecido), mas a série tem agilidade sem dar impressão de que algo foi cortado, tem narração que realmente te prende atenção e enredo que convence. Não vou encher de elogios, dizer que a série é ótima, coisa e tal, porque com muitos aspectos a serem melhorados, seria contraditório da minha parte. Então prefiro dizer que, com algumas melhoras significativas a série terá futuro.
Acompanhe a série AQUI.
Bj, people!