Agents:Revenge | Confuso, porém, com bons diálogos

Cristina Ravela
0
Boa noite, meus amigos mais queridos!
Anos após um hiatus forçado, e tendo que mudar o nome Revenge por força de contrato, Sônia Cury ressurgiu das cinzas com a série Agents:Revenge. Produzida pela Moonlight Pictures, a produtora pipocou promos devastadoras pela rede social e a autora ganhou mais apoio do que se fosse em campanha política. Mas será que o retorno foi bem-vindo?
♫ Rebole, rebole, rebole sem parar...♫


Segundo a sinopse, Alicia Collins (Halle Berry) é uma agente especial que enfrentará o perigoso ladrão Jared Marshall (Fredric Lehne) , que volta a West Mountain para dominar a cidade. Em pouco tempo, ela e seus parceiros se tornam marionetes nos jogos engenhosos do ladrão.

O piloto começa com um flash-forward de surpresa, já que você não é avisado do mesmo. O uso excessivo da CÂMERA é muito peculiar nas obras de Douglas Souza, e chato também. Eu amo um "A CAM busca", mas existe maneiras de você usar a câmera sem necessariamente mostrá-la. Vamos partir para os 5 destaques do piloto:

1.DESCRIÇÕES SUBJETIVAS

"[...]mostrando toda sua habilidade devido aos longos anos de treinamento."
"O piloto e o outro homem de preto que na verdade são seus capangas"

Embora alguns roteiros apresentam esse tipo de recurso, é preciso ter cuidado com as informações dadas. Qualquer coisa relacionada a parentesco, passado, ou sentimento são reveladas naturalmente sem que você precise dizer isso no roteiro.

Um exemplo abaixo retirado desse SITE:
"[...]JOYCE começa a jogar as fotos na caixa de madeira que pode, ela não quer que PAULO, que está abrindo a porta devagar, as veja" 

Só pelo modo da JOYCE esconder as fotos, você sabe que para ela, PAULO não pode ver, BUT, isso é opcional.
Mas veja como é estranho você informar algo que deveria se manter oculto até a segunda ordem:

"Fulana acerta um tapa na desvairada da beltrana, com quem teve um caso recentemente"
"Os dois, na verdade, são cúmplices, mas fingem que são inimigos para Ciclano nem sentir de onde vai partir o golpe que o matará no episódio seguinte"



2.FALTA DE CABEÇALHOS OU CORTE DE AMBIENTE

Na cena 4, o cabeçalho indica que um helicóptero passeia pela cidade, em seguida, Jared e seus capangas estão nesse helicóptero vendo a vida passar pela janela. Depois eles saem,vão até o terraço e são conduzidos pelo backstreet boy Brad (Brian Littrell) até a sala de Frank (Adam Sandler). Tudo isso dentro do mesmo cabeçalho: A cidade de West Mountain.

Nesse caso, somente o escritório de Frank deveria aparecer em um novo cabeçalho, já que as cenas que a antecedem ocorrem dentro e fora do helicóptero. Mas um "Corta para o interior ou exterior do helicóptero" seria bem-vindo.

3. DECUPAGEM EXPLÍCITA

É o uso descarado da câmera. A autora abusou tanto, que eu precisei ler umas 3 vezes para ter certeza de que eu não estava delirando. Além disso, era um tal de gotas caindo, som para, depois tudo ficava normal, Alicia correndo, aí entra a gota d'água caindo em um ritmo frenético (ou era a Alicia quem corria assim), até ela ser alvejada por um tiro e aquela p** de gotas caindo sem parar finalmente parar.

"Câmera foca no rosto de Alicia e muda para a torneira. Som para de novo. As gotas estão um pouco mais rápidas e conseguimos ouvir os barulhos delas de novo. A música volta ao normal e ela vira a esquina seguindo para a próxima rua. 
Música abaixa um pouco e Alicia suspira, mas continua no ritmo frenético enquanto o som volta a altura normal e dita a velocidade de sua corrida."

Transportar o que você quer para o papel e convencer o leitor a imaginar a cena do mesmo jeito que você, é difícil. Mas uma boa formatação tornaria tudo menos confuso. A pontuação serve para decupar um roteiro de forma implícita sem que você precise enchê-lo de "A câmera foca" , "Câmera revela", "A câmera dá um close no rosto de fulano". É mais ou menos assim que eu a veria formatada:

"No rosto de Alícia.
Corta para a torneira, onde as gotas caem um pouco mais rápidas e OUVIMOS seu som novamente.
A música aumenta de volume
Alícia vira a esquina seguindo para a próxima rua.
Música diminui, Alícia suspira, mas continua no ritmo frenético, até que 
a MÚSICA volta a altura normal."

4. DESCRIÇÕES DEMAIS

Descrever os personagens e ambientes quando se apresentam pela primeira vez, é importante. Não precisa destacar a marca da roupa, se o rímel é á prova d'agua, ou se a pessoa tem os dentes amarelados causados pelo café. Além disso, há a descrição de situações,como ocorreu na cena 10:

"CENA 10 – EDIFÍCIO VIOLET – INT. NOITE

Julie fecha a porta que dá acesso ao térreo do prédio com um leve chute. Ela tenta se equilibrar, pois uma de suas mãos está ocupada com uma pilha de folhas e pastas, na outra segura um livro e ao mesmo tempo tenta manter sua bolsa no ombro já que na suas costas se localiza sua mochila, cuja a alça grossa ocupa grande espaço de seus ombros, o que faz com que sua bolsa não fique quieta 
no lugar."

Parece demais, né?

"CENA 10 – EDIFÍCIO VIOLET – INT. NOITE

Julie fecha a porta que dá acesso ao térreo do prédio com um leve chute. Atrapalhada, ela tenta se equilibrar com uma pilha de folhas, pastas e livro nas mãos, além de segurar um bolsa de um lado e sustentar uma mochila nas costas."

Ocupa menos espaço em seu roteiro, além de não poluir com tantas informações minuciosas.



5. BONS DIÁLOGOS FAZEM A CENA

Nada de mimimi, conversa mole e onomatopeias, porque Deus é mais! Afinal, Sônia Cury não escreve pra crianças. Os diálogos fizeram a diferença perante descrições exageradas e má formatação.

"FRANK – Eu seria ameaçado constantemente... (passa as mãos no rosto rapidamente e suspira) Não posso avançar com isso e nem levar essa ideia a níveis internacionais."

Eu realmente imaginei Adam Sandler dizendo isso.

E o que você espera do enredo? Obviamente, um que te mantenha preso a ele.
O piloto mostrou a chegada do ladrão Jared para fazer um grande business usando um tal de chip Life. Esse chip seria capaz de controlar a raça humana, e foi justamente um cobaia que suspendeu a cansativa corrida de Alicia com um tremendo tiro. Então você fica curioso, já que até então o seu sócio (Frank) estava receoso em testar em humanos, afinal, que humano ia querer ser controlado? Pensei nos mendigos da Central do Brasil, os drogados da cracolândia, ou os amigos de Eduardo Amaral, não sei. Mas é essa curiosidade que mantém o leitor preso a sua obra.

Cada cena tinha o seu propósito, cada leva de diálogos era importante, e eu não senti que a autora tinha pressa de chegar ao fim.
Mas a melhor parte do roteiro esbarra nos maiores problemas que estão espalhados na estrutura, com várias cenas ocorrendo em um único parágrafo, falta de cabeçalhos e descrições demais.


Para aqueles que leram a review anterior e acharam que era positiva, vale destacar: Esta é uma resenha negativa sim, porém, nessa acredito que haja salvação devido aos fatores já citados. Quem sabe não teremos uma análise de temporada ou...Uma review POSITIVA de uma season premiére?

Postar um comentário

0Comentários

Please Select Embedded Mode To show the Comment System.*

#buttons=(Aceitar !) #days=(20)

Nosso site usa cookies para melhorar sua experiência. Saiba mais
Accept !