A mulher e sua imagem depreciada na mídia
E
aí, tudo bem com vocês?
Comigo
tá tudo certo. Tirando o calor infernal que está fazendo esses dias, tudo está
em perfeita ordem.
Bem,
já tem alguns dias que eu não falo nada por aqui, a ultima vez que fiz um post
deu um problema gigantesco, mas a minha intenção hoje é trazer um assunto mais
leve.
Um
tópico que é mais reflexivo do que polêmico.
Uns
dias aí atrás, eu entrei num museu cheio de bonecos de cera.
Logo
no primeiro corredor, havia dois bonecos do tamanho normal de um adulto.
Era
a representação de um homem e uma mulher.
Ela
estava caída, chorando aos pés do homem.
Eu
achei aquilo no mínimo estranho. Me perturbou um pouco.
Indo
mais adiante, entrei numa sala que lembrava uma casa árabe do milénio passado.
As
paredes e os utensílios eram de barro. O chão de terra batida, e tudo era muito
rústico.
Perto
do fogão, havia uma mulher coberta dos pés à cabeça, ela segurava uma criança
enquanto mexia uma panela.
Dei
alguns passos e entrei na sala, onde dois homens conversavam sentados em uma
mesa de pedra.
Próximo
da mesa, uma menina parecia servir algum tipo de bebida para os homens.
Saindo
daquela casa, era possível adiantar uns mil anos no relógio cronológico e
chegar ao século dezoito.
O
cenário, era de uma praça de alguma cidade na Europa.
Uma
fogueira ardia de verdade, e presa a dois brutamontes, estava uma senhora
expressando um grito mudo.
Eles
pareciam segurá-la para em seguida jogá-la no fogo.
Era
possível sentir a angústia que a mulher demonstrava com as expressões faciais.
Eu
realmente não quis ficar muito tempo naquela sala.
Fui
tomado por um medo, um estranhamento, como se realmente aquilo fosse algo muito
errado.
Entrei
em um novo ambiente, onde todas as pessoas que assim como eu visitavam o museu,
estavam hipnotizadas diante de monitores.
Nas
telas, vídeos eram reproduzidos.
Todos
eram videoclipes com trailers de filmes ou clips de musicas.
Reconheci
algumas artistas.
Uma
era a Katy Perry mostrando parte dos seios.
No
outro, Britney Spears dançava sensualmente rebolando a bunda para a câmera.
Em
outro monitor, percebi Angelina Jolie interpretando Lara Croft no filme Tomb
Raider.
Tudo
era sobre as mulheres, e como eles sempre eram retratadas de forma sensual.
Era
como se as mulheres fossem meios de satisfazer um público masculino.
Resumindo:
como a mídia tratava as mulheres como OBJETOS.
E
esse é o motivo do post: desabafar sobre como toda uma sociedade coisifica a
imagem da mulher.
Como
elas são retratadas como indefesas, histéricas e precisando de um homem.
Sempre
que a mulher é protagonista em um filme, ela sempre está em busca de um amor,
ou seja: em busca de um homem.
Se
ela é a heroína, ela sempre é desumana e fria o bastante pra negligenciar
marido e filhos.
Miranda
é uma megera que vendeu a alma pelo sucesso, no filme interpretado por Maryl
Streep.
Elas
sempre são frias quando estão no poder. São implacáveis, desumanas e parecem
deslocadas.
Por
que as mulheres não podem ocupar o lugar de decisão de forma natural, assim
como os homens ocupam?
Quando
elas estão no poder, não parecem adequadas para aquilo.
Lembro
que quando Marina Silva era candidata a presidente, foi zombada por não parecer
forte o suficiente.
Eles
olhavam para a aparência dela e diziam: “ela não tem força para comandar um
país inteiro”. “Marina precisa tomar um tônico pra ter mais energia”.
O
ser-humano Marina Silva nunca era levado em conta. Tudo era uma questão de
aparência.
Dilma
era criticada por ser máscula demais.
Marina
era criticada por ser fisicamente fraca.
O
que importava nessas mulheres era se elas eram fortes ou bonitas o suficiente.
Não
víamos seu intelecto. O que importava era a aparência.
Tiramos
o poder da mulher, relegando a elas um lugar de serviçal.
Lugar
da mulher é cuidando da casa. Mulher não precisa se meter na política.
Política
é coisa de homem.
E
assim, castramos as mulheres. Tiramos sua voz. Apagamos seu protagonismo.
A
mídia, dominada predominantemente pelos homens, continua perpetuando uma mulher
em torno de um homem.
As
novelas mostram mulheres brigando umas contra as outras pra ficarem com o macho
amado.
Elas
sempre estão em pé de guerra pra ganhar o homem.
É
difícil ver uma novela em que a protagonista só quer lutar pelos seus sonhos.
Infelizmente,
alimentamos a mulher indefesa que precisa de proteção masculina e não tem voz
ativa.
Nós,
que escrevemos. Devemos mudar isso.
Precisamos
falar de mulheres fortes, que não usam a aparência para se promover, que não
são objetos sexuais para aumentar a audiência.
Mas
que são inteligentes o suficiente para cuidarem de si. Para darem voz às suas
demandas.
Para
participarem do poder com sua intuição e criatividade.
Para
mostrar que são mais do que curvas, mas que são seres humanos.
Dotadas
de vontade, razão e força.
Para
mostrar que elas podem amar e serem amadas.
Que
são dignas de respeito e igualdade. Que são tão boas quanto os homens e merecem
os mesmos privilégios e espaços que eles.
Viva
às mulheres.
*Um
texto inspirado no documentário Miss Representation, disponível na Netflix.