Vamos lá, Ben Luanson (Charlie Rowe) é um jovem estudante de Londres, bastante observador, com alto senso de justiça e metido a Sherlock Holmes. Ele faz amizade com o recém chegado Oliver Banks (Lorn Macdonald), um jovem atrapalhado e nada observador que se une a Ben numa investigação perigosa que envolve uma maldição hindu.
Sentiu o suspense?
Então desce ao som de Beethoven na sua famosa Symphony nº 5, caso queira ler spoiler...
Tudo começa com o falso suicídio de Crownler (quase sai Clown, juro) em sua humilde residência, após ser seguido por um homem de preto. Crownler fica impressionado ao ler uma carta - talvez com a letra da música de Gusttavo Lima - e, desesperado, surta e só vemos seu corpo despencando da janela.
Essa é apenas a primeira morte suspeita que faz Ben...Suspeitar de algo estranho, porque depois acontece outra morte, do mesmo jeito, desta vez fica claro que a vítima sofre alucinações.
O autor parecia querer dominar o roteiro abusando da decupagem explícita (o uso de câmera, "vemos", cortes, etc), iniciando fatalmente a cena com um FADE OUT
, sem contar as palavras repetidas que cansam a leitura e dão a impressão de esgotamento de
recursos.
"A cena abre dentro de um apartamento bem decorado. A porta se abre e Crownler entra. Ele fecha a porta rapidamente e se mostra em desespero. Ele sobe as escadas rapidamente. Corta e vemos um quarto espaçoso e bem organizado. A porta se abre e Crownler entra desesperadamente. Ele tranca a porta rapidamente. Ofegante ele se apoia na porta."
(BL 1x01)
Percebo que o mr. Crownler faz tudo muito rápido, né?
Lembra do tópico sobre temporalidade e localização? Pois então, foram recursos mau usados durante a série. A cena 2 do piloto, por exemplo, começa num apartamento, mas dentro dele há a mudança para um dos cômodos sem que isso fosse realçado no roteiro. Deixar o local(quarto, sala, banheiro...) em letras maiúsculas ou abrir uma nova cena ajudaria a organizar o roteiro.
O uso "vemos" é desnecessário quando você pode substituir pela decupagem implícita, que é quando a cena deixa claro onde e de que maneira a câmera está posicionada. Espie o exemplo 1 modificado:
"Corta para
Cena 02: (Apartamento – Int. – Noite)
Um apartamento bem decorado. A porta se abre e Crownler entra desesperado, fechando a porta em seguida. Ele sobe as escadas rapidamente. Corta.
Cena 3: (Quarto - Apartamento - Int. - Noite)
Um quarto espaçoso e bem organizado. A porta é aberta, Crownler entra perturbado e tranca a porta espavorido. Ofegante ele se apoia na porta."
Substitui algumas palavras por outras semelhantes para evitar repetições no mesmo parágrafo e/ou mesma cena. E essas situações se repetem várias vezes durante os episódios, algo semelhante a outra série do autor, Coisas da Vida, mas Deus é Grande e o enredo se mostrou tão fascinante, desde os protagonistas até o motivo das mortes, que li tuuuuudo num único dia, acredita? Como se trata de uma série no estilo européia, com pouquíssimos episódios, a temporada também ganhou um título, no caso "The Curse of the Dead" (na livre tradução você obtém facilmente, "O Curso da Morte"
...Brincadeira, people, na verdade é "A Maldição da Morte").Então, Ben é solitário, muito inteligente, sempre fica com as tiradas mais espertas, tipo eu assim #SóQueNão; Já Oliver tem dificuldade de acompanhar o seu raciocínio, certamente porque lhe faltava a malícia, tipo assim o Jp Tusset, #SóQueNão. Juntos se metem a desvendar o mistério das mortes e descobrem que tudo tem relação com uma estátua valiosíssima roubada da Índia, a Kali - deusa da Morte.
Reza a lenda que se alguém desafiar Kali, ela volta pra puxar seu pé de noite...
Calma, não é isso não, gente, é que quem desafiá-la estaria desafiando a morte, tanto a própria quanto a de seus descendentes.
Mas os caras que partiram dessa pra uma pior não eram vítimas por conta da maldição, e sim, porque alguém tentava quebrar a maldição acreditando que a morte do traidor traria a paz e a liberdade novamente.
O autor conseguiu dosar muito bem o mistério e a curiosidade do pequeno grande herói, sem parecer que tudo foi muito rápido e incoerente. E apesar da semelhança com a série da BBC Sherlock, As Aventuras de Ben Luanson não é mais do mesmo; É uma série que te prende do início ao fim - que é logo alí - e ainda tem o clichê atrativo do "Quem Matou" e "Por quê?". Só devo dizer que eu já sabia quem era o assassino desde o momento que ele entrou em cena, pois já fui muito fã de CSI, tá?...
Consegui visualizar muito bem as cenas, que associada a um roteiro sem as falhas citadas, ficaria perfeito.
Pra terminar, Ben Luanson veio para provar que tamanho não é documento, e faz questão de ser notado. Será que ele seria capaz de fazer um estrago em outras séries estreantes e conquistar uma vaga no Troféu Imprensa nosso de cada ano?
Melhor não pagar pra ver, né...?
